1.2.07

Espionagem com a chancela do ministério


Não, não vou escrever um conto com as apaixonantes (para os que gostam do género) peripécias de serviços secretos. O nome do ministério que vai ser revelado daqui a umas linhas não é o da defesa, com a espionagem militar que antecipa os segredos do tenebroso inimigo; nem é o ministério dos negócios estrangeiros, com os serviços de informações que entregam cifrados relatórios dando conta das boas e más novas em países distantes; nem tão pouco o ministério da administração interna, que vasculha, com a ajuda dos serviços secretos, a vida de quem se põe a jeito para a intrusão indecifrável do vigilante Estado.

Seriam os principais candidatos a um acto de espionagem. Sem se dar contar, surgem deliciosos episódios que pintam um quadro de espionagem diferente do habitual. A surpresa chega de onde menos se espera: do ministério da educação. Podem os desatentos soltar um “ah!” de espanto. E, de seguida, enquanto coçam a cabeça e deixam de estar boquiabertos, interrogar os seus botões: como pode o ministério da educação participar num acto de espionagem? Os espiados serão os professores que se opõem à ministra? Terá o ministério da educação um serviço secreto por sua conta, para descobrir os podres privados dos activistas que denigrem a imagem da senhora ministra, entregando de bandeja matéria bastante para accionar a coacção psicológica?

O perfume é mais exótico. A nova espionagem patrocinada pelo ministério da educação veio com um inquérito preparado por uma equipa de pedagogos, ou cultores das ciências da educação, como é de bom tom rotulá-los (fazendo-lhes a vontade). A equipa de investigadores passou um inquérito pelas escolas de norte a sul. Entre outras perguntas inocentes, pedia aos petizes para revelarem informação sobre os hábitos sexuais dos progenitores. Ou se tinham sido testemunhas de violência doméstica. Assim se desafiava as crianças a assumirem o papel de delatoras do que se passa entre quatro paredes, no remanso do lar. Há quem seja tolerante com a hipótese dos alunos serem os bufos dos pais que partem a loiça na cabeça das mães; mais bizarro parece o convite à revelação do que fazem os papás enquanto estão entretidos a satisfazer a libido.

Todavia, há que compreender a intenção destes pedagogos. Já alguma tinta correu crucificando os autores do inquérito. Se calhar temos que reflectir com cuidado para as motivações do estudo serem captadas. Há algumas teorias que me ocorrem. Primeira teoria: os investigadores que elaboraram o inquérito são personagens que padecem de uma fobia qualquer, um voyeurismo recalcado que expõe traumas da infância atormentada. Estes pedagogos terão assistido, ainda em tenra idade, aos esfreganços sexuais dos progenitores. E devem achar que a falta de cuidado ou o pudor mal resguardado de um casal doidivanas pertence ao domínio da normalidade. Porventura nunca terão ouvido falar em intimidade.

Segunda teoria: por meias palavras, através do inquérito, os pedagogos passam uma mensagem bem clara às crianças. Os que já espiaram as escapadelas libidinosas dos papás foram desagrilhoados do recato que a sensatez aconselhava. Ao lerem as obnóxias perguntas sobre os hábitos sexuais dos progenitores, as crianças terão soltado as reservas e desnudado o que interessava saber aos autores da pesquisa. Os outros, os que nunca terão espreitado as distracções de lençóis dos papás, retiveram um forte incentivo para os espiarem quando o casal se escapa à socapa para o quarto. Pois se apareceram aquelas perguntas indiscretas que convidam revelações explosivas, os petizes são levados a pensar que é a coisa mais natural darem uma vista de olhos enquanto o papá está em cima da mamã (ou por baixo, ou qualquer que seja a posição).

Terceira teoria: o inquérito é pioneiro ao preconizar uma alternativa de educação sexual das criancinhas. Os tais pedagogos perfilham a seguinte ideia: as crianças devem aprender estas coisas com quem os gerou, isto é, assistindo ao vivo ao desempenho dos papás. Já que têm que passar por um tirocínio nestas artes, que o façam com os melhores actores (perdão: educadores) que podem ter – o pai e a mãe, e não anónimos actores pornográficos que, diz-se, desumanizam o acto.

Quando li pela primeira vez a indignação com a revelação dos pormenores sórdidos do inquérito, fiquei apreensivo. Reforcei o juízo sobre os socialistas caseiros: perigosos fascistas encapotados com a perfídia de invadir a privacidade alheia sob pretexto do avanço da sociedade (ou lá o que isso seja). Retrocedi: nada melhor que uma reflexão mais fria para tirar a limpo a intenção. Aqueles pedagogos estão cheios de boas intenções. Todos lhes devemos um intenso bem-haja pelos inestimáveis serviços que prestaram. Eles sabem sempre o que fazem; andam sempre dois passos à frente de todos nós, comuns mortais a léguas da sua inteligência visionária.

4 comentários:

Rui Miguel Ribeiro disse...

Tenebroso, asqueroso, aviltante, criminoso! Esses bandidos deviam ser indiciados de crime, até ao topo da pirâmide. Até custa a crer que seja verdade.

Anónimo disse...

ESTA PESSIMO PEDE SE UMA COISA E ESSA COISA N APARECE

Anónimo disse...

EU SOU ESPIÃO, GOSTO DE ESPIONAR AS BUCETAS DAS MULHERES GOSTOSAS DOS BANDIDOS POLÍTICOS DA REPÚBLICA.

ELAS SÃO TODAS CARENTES, POIS ESSES CORNOS SÃO TODOS BROCHAS.

É CADA COXA, MULHERES RABUDAS, QUE SÓ EM OLHAR DÁ PARA DESMAIAR.

Anónimo disse...

ENQUANTO OS CORNOS DO GOVERNO ESTÃO ESPIONANDO A GENTE, NÓS ESPIONAMOS AS BUCETINHAS VADIAS DE SUAS MULHERES ALIENADAS E FÚTEIS.