4.4.25

A monstra e o belo

Sharon Van Etten & The Attachment Theory, “Trouble” (live from the Chruch Studies London), in https://www.youtube.com/watch?v=jUiLrV5AC_g

A opulência do mundo esbarrava no avesso de que se compõe. Insistia-se em desafiar o prescrevido, as convenções rombas avançavam no desmedo da decadência. Já não se sentia o aroma a capitulação como ensaio dos mandantes para tutelarem suseranos amordaçados. Se havia petições, não tinham princípio: elas emasculavam os nós górdios que impediam o pensamento de levantar voo. As grilhetas tinham sido estroncadas. Cheirava a liberdade; a uma liberdade como nunca dantes fora sentida.

De fora dos estribilhos, as palavras vagueavam sem regras. Eram usadas como uma apoteose do momento. Prósperas promessas de literatura, mesmo que não viessem a ser guardadas em páginas tatuadas por letra de forma. Uma certa fala não contrabandeada, como se suas fossem as regras omissas como fundamento de não se tornar puída, o arremessar de palavras tornadas ambíguas por se tornarem numa caixa de Pandora gongórica.

Era neste mar de avessos que se terçavam os desafios heurísticos. Um planisfério de opostos, jogando as mordaças de outrora contra a apneia dos sentidos, contra a hibernação forçada como esteio da obediência que era uma casta medida para o interesse dos mandantes. As farsas eram apenas a encenação visível que subia à cena, na teatralização necessária para escapar aos logros visíveis. Era neste palco que contracenavam a monstra e o belo.

O belo não se atinha à linhagem habitual que servia de formato à beleza. A monstra também dissidia dos cânones: por mais que se protestasse contra a dominação masculina, por mais que estivesse enraizado o fermento da desigualdade em desfavor do feminino, os monstros eram habitualmente masculinos. 

O belo e a monstra dialogavam nos interstícios da filosofia. Falavam como se estivessem a declamar poesia. Não fugiam das demandas, por mais exigentes que fossem no estipêndio envolvido. Diluam-se no seus papeis: a monstra mostrava a faceta bela e o belo não escondia a feiura que secretamente contrastava com a beleza.  Até se diluírem as diferenças, à mercê das falas de ambos. Até serem diferentes, pelo avesso que de si erigiram.

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