28.9.20

Projeto

Poolside, “Getting There From Here” (with Todd Edwards), in https://www.youtube.com/watch?v=CbaNXY2sZxg

Uma ponte sobre o chão de nuvens: tirando à sorte o avesso do dia, preferíamos o musgo de onde podíamos resgatar o conforto. Anotávamos as intenções. Podia ser em papel gasto, amarrotado; as intenções não ficam diminuídas. 

Prosseguíamos com a safra do dia.

Algum tempo em demanda interior não é um ultraje à exiguidade em que ele se debate. Ou melhor: com que nos debatemos depois de darmos conta da exiguidade do tempo. Os corredores por onde andamos parecem os apertados limites de um túnel, a escuridão atemorizadora como pano de fundo. Nem assim nos intimidamos. Julgamos ser maior a nossa força. Não é errado o juízo de valor. Avançamos porque intuímos uma centelha a fulgurar um pouco mais à frente. 

Avançamos.

Se o labirinto não fosse um ermo, não seria difícil inventariá-lo. Seríamos metódicos a desenhar as suas veias, a anotar com precisão as pulsões, como se fossem os rochedos submersos no leito de um rio que os navios têm de ladear. Demorasse o tempo que fosse preciso. E depois, a meio do ofício, até podíamos inquirir sobre a utilidade desta cartografia. Todas as interrogações são legítimas. E as tergiversações também. Se fosse preciso, podíamos parar a meio do exercício. Ponderar nos cambiantes da interrogação. Colocando a hipótese de recuar à casa da partida sem completar a carta iniciada. Uma capitulação pode não ser assim entendida. Se a vontade se sobrepuser e arquivar a relevância de um cometimento, ele deixa de ser cometimento por ter sido encomendado à categoria da indiferença. 

Ficamos por decidir se retomamos, mais tarde. 

Perguntamos se temos em mãos o fio à meada da casa da partida. O labirinto é um emaranhado de caminhos que se arqueiam sobre os forasteiros. Neste labirinto, todos se sentem forasteiros. Até quem cuida da sua cartografia. Podíamos jurar que os caminhos interiores do labirinto mudam de dia para dia, como se um sortilégio qualquer cuidasse de mover as fronteiras das paredes e, no dia seguinte, a sua configuração fosse diferente. Colocamos a hipótese de ser propositado: o tutor do labirinto prefere mantê-lo em segredo, inacessível aos que teimarem na sua decifração.

Percebemos: as forças não devem ser gastas numa empreitada que se move por uma constelação de caminhos que se desmultiplicam em múltiplas ramificações. Perder-nos-íamos num ermo, sem sabermos onde estávamos. Encontramos resposta para as interrogações que suspenderam o tempo: em homenagem à finitude do tempo, não nos entregamos ao inventário do impossível. 

Se ele há melhores formas de aproveitar o tempo, para que haveremos de o gastar sem serventia? 

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