A sujeição aos limites que transcendem a vontade, armadura que se veste no corpo sem ser a pedido deste. Diz-se: é uma proteção contra a verosimilhança da geografia intransigente, uma aguarela límpida que ornamenta a cartografia do lugar. Mas uma sujeição. Não se é arquipélago sem o penhor da angústia.
Mas ser arquipélago é uma condição inata. Pode-se ser arquipélago em sentido literal, um conjunto de ilhas contíguas que formam um todo e, todavia, entre elas uma dissemelhança que suplica múltiplos heterónimos, ou personalidades que correm em paralelo. Ou ser-se arquipélago apenas como metáfora, sem um mar à ilharga e, todavia, arquipélago, um amontoado de ilhas que se desprendem do território limítrofe por a identidade se ter desidratado com a passagem do tempo.
O arquipélago pode ser um ónus. A unidade espartilhada em diversas parcelas, com a descontinuidade a fermentar a pluralidade. Não é fácil habitar na diversidade contida num arquipélago. Apesar do módico de identidade (ou não se podia falar de arquipélago), os estilhaços desenhados no mapa, que quadram com as várias ilhas, são o espólio da disparidade. Nem sempre a memória consegue adestrar o compêndio das diferenças que formulam a identidade do arquipélago. Parece que as diversas partes não compõem um todo, estranhas entre si.
Essa é a fortuna do arquipélago. Embebe-se na pluralidade, não tendo razões de queixa do tédio que se instrui na continuidade do que é sempre igual. Pode ser um mostruário armadilhado, se a diversidade for tão visível que salta aos olhos, de tal forma que se pode interrogar se as diversas partes formam um todo.
Há quem prefira evitar as dores genéticas de um arquipélago traduzido numa bandeira policromática. Julgam que tanta diferença é impeditiva de um mínimo denominador comum de identidade, caminhando para um abismo onde a hesitação medra na complexidade. E há os outros, metodicamente hostis à reprodução mecânica dos dias uns atrás dos outros, que constroem o seu próprio arquipélago como reduto da necessária reinvenção. Os arquipélagos mentais são em maior número do que os arquipélagos geográficos. A metáfora sobrepõe-se ao limitado espaço onde se arquivam os mapas que desenham os limites da terra.
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