Que não seja castrado o poliéster da ambição, nem lhe seja averbada a avareza. Os emblemas da democracia, os sacerdotes da igualdade não mirífica, assim o entoam. A escada deve ser estendida a toda a gente. Dá-la em primeiro lugar aos que se encontram na base da pirâmide. Só que, noutras instâncias, os mesmos iconoclastas protestam contra a subjugação aos valores materiais. Admita-se que subir na vida não quadra apenas com as ambições que se materializam em conquistas materiais. Todavia, pergunte-se aos que vegetam na base da pirâmide, ou a outros com pretensões arrivistas, ao que gostariam de ter acesso a ambição vingasse. Diriam, em sua maioria, tratar-se de coisas materiais. Descontando estes aspetos mundanos, mas não comezinhos, registe-se a propensão das pessoas para serem alpinistas sociais. Sabem (ou deviam saber) que a pretensão envolve um esforço – ou não fosse o alpinismo sobre trepar alcantiladas montanhas, o que não se consegue de ânimo leve. O que ninguém lhes diz, é que precisam de arnês. Os burocratas das ideias que certificam um direito geral à igualdade ludibriam os ascensionais por não serem advertidos para o ónus da queda. E para a probabilidade da queda. Os alpinistas sociais partem para a empreitada sem arnês. Às vezes, a mão escorrega numa aresta da montanha, ou o pé fica sem chão por baixo, e o derribamento é o ultimato a que não conseguem responder. Os potenciais alpinistas sociais margeiam a montanha, a meias com desdém e com usurpação onírica, sem saberem o que fazer para iniciar a ascensão. Muitos deles não passam da intenção. Poupa-se-lhes a vida, ou um esforço em vão, com a agravante da angústia em que se consomem pela inviabilidade do ofício. É a metáfora diligente da sociedade: quase todos não passam de alpinistas em sonhos.
25.9.20
Subir na vida (princípio geral do alpinismo) (short stories #261)
Radiohead, “Airbag”, in https://www.youtube.com/watch?v=jNY_wLukVW0
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