Está vulgarizada a ideia: a parolice campeia entre o povaréu. Saloios que chegam da província e acampam na grande cidade, com ar triunfante. Os novos conquistadores das avenidas largas que se espraiam diante da sua vista. São os emergentes do nosso tempo. Espalham, com os dedos da democrática maioria, a estética dominante. São eles os culpados da ascensão da cultura pimba – que nos chega através da música, mas também da escrita, do teatro.
Uma casta bem pensante zurze da gentalha apimbalhada, destila um cinismo que fermenta peças de um humor memorável. Contudo esquece-se, a casta, de olhar para uma modalidade alternativa de kitsch, uma quase invisível exibição do mau gosto que perfuma o glamour de certas personagens que vegetam como ícones do estrelato social. É o kitsch deslumbrante, que os estratos da high society convencionaram ser o paradigma do bom gosto militante. Chegado a este ponto, impõe-se uma advertência: estou a pisar o terreno pantanoso da estética, onde a subjectividade é palavra de ordem. E também quero que se perceba que a denúncia do kitsch estratosférico não é opção de apaziguamento pessoal com a parolice popular que fere com a sua vozearia desbragada.
Quando tento retratar o kitsch deslumbrante que ciranda entre os estratos inatingíveis da alta sociedade, dois exemplos assomam à superfície: alguma publicidade do Banco Millennium e o advogado Daniel Proença de Carvalho. Com o Banco Millennium é recorrente. Campanha publicitária atrás de campanha publicitária, o banco sinaliza a mensagem que quer tocar no coração (e na afinidade estética) dos endinheirados que vogam (ou aspiram a vogar) na espuma do estrelato social.
O derradeiro exemplo está na campanha bafienta que nos entra, a toda a hora, olhos e ouvidos dentro, em televisões, jornais e rádios. Uma festa que cintila carradas de esplendor social. Dir-se-ia, a nata da sociedade em peso na festança onde jorra o champanhe francês em flutes de cristal delicado. Os senhores, todos em smoking, que a solene ocasião exige fatiota a preceito. As senhoras ostentam luxuosos vestidos com as lantejoulas adejando, num intenso brilho que envia os sinais que estimulam o sistema nervoso dos convivas. Tudo – smokings e cerimoniosos vestidos – engalana o evento, abrilhanta-o com um fascínio invulgar. Uma tribo exclusiva, onde só os eleitos podem entrar. Ao mesmo tempo, o feérico templo onde uma numerosa fila de aspirantes gostaria de entrar, uma vez na vida que fosse.
Depois lê-se, algures num jornal especializado em economia, que o Banco Millennium quer chamar a si 25% dos afortunados que possuem mais de 500.000 euros. E acertam-se as peças do puzzle, que encaixam na perfeição: agora percebe-se a encenação filmada para a campanha publicitária do Banco Millennium. O público-alvo pertence à abastada casta que o banco que atrair. São as mesmas pessoas que convivem em círculo fechado, que frequentam as festas fascinantes onde os senhores passeiam a fátua pose fleumática dentro do smoking e as senhoras tecem capciosos comentários sobre os temas ocos em que são especialistas, lavrando o terreno de onde se erguem na sua feição de alcoviteiras.
Este é o imaginário da espuma fina onde só os eleitos do estrelato social têm lugar. Um lugar cheio de kitsch: os vestidos com as lantejoulas, que à chegada vêm tapados pelos longos casacos de pele de animal verdadeiro; os smokings que vestem de uma indiferenciada maneira os aprumados varões que orquestram as coisas mais importantes desta terra. Os outros são convidados ao sonho, restando-lhes um cheirinho do imaginário. Só para ficarem a sonhar, numa saudável inveja dos felizardos que por lá andam.
Ainda não consegui que me explicassem esta sede de protagonismo social que reproduz tiques importados de outras paragens. Uma terra que sempre foi conhecida – e bem retratada por escritores – como um lugar de abrutalhadas almas; uma terra onde o republicanismo impera; uma terra tão causticada pelo jacobinismo; e, mesmo assim, deslumbrada com os feixes de néon que perpassam os eventos onde a nata da sociedade ostenta a sua condição.
À parte esta incógnita da equação que não consigo resolver, fica a parolice latente inscrita no código genético da nata social. Quando vejo os dois actores que dialogam ensacados no smoking de aluguer, e quando ouço o diálogo mais improvável que os publicitários podiam congeminar, é de Daniel Proença de Carvalho que me lembro. A referência deste kitsch deslumbrante, o exemplo para a tribo que está no patamar inatingível do topo social.
Uma casta bem pensante zurze da gentalha apimbalhada, destila um cinismo que fermenta peças de um humor memorável. Contudo esquece-se, a casta, de olhar para uma modalidade alternativa de kitsch, uma quase invisível exibição do mau gosto que perfuma o glamour de certas personagens que vegetam como ícones do estrelato social. É o kitsch deslumbrante, que os estratos da high society convencionaram ser o paradigma do bom gosto militante. Chegado a este ponto, impõe-se uma advertência: estou a pisar o terreno pantanoso da estética, onde a subjectividade é palavra de ordem. E também quero que se perceba que a denúncia do kitsch estratosférico não é opção de apaziguamento pessoal com a parolice popular que fere com a sua vozearia desbragada.
Quando tento retratar o kitsch deslumbrante que ciranda entre os estratos inatingíveis da alta sociedade, dois exemplos assomam à superfície: alguma publicidade do Banco Millennium e o advogado Daniel Proença de Carvalho. Com o Banco Millennium é recorrente. Campanha publicitária atrás de campanha publicitária, o banco sinaliza a mensagem que quer tocar no coração (e na afinidade estética) dos endinheirados que vogam (ou aspiram a vogar) na espuma do estrelato social.
O derradeiro exemplo está na campanha bafienta que nos entra, a toda a hora, olhos e ouvidos dentro, em televisões, jornais e rádios. Uma festa que cintila carradas de esplendor social. Dir-se-ia, a nata da sociedade em peso na festança onde jorra o champanhe francês em flutes de cristal delicado. Os senhores, todos em smoking, que a solene ocasião exige fatiota a preceito. As senhoras ostentam luxuosos vestidos com as lantejoulas adejando, num intenso brilho que envia os sinais que estimulam o sistema nervoso dos convivas. Tudo – smokings e cerimoniosos vestidos – engalana o evento, abrilhanta-o com um fascínio invulgar. Uma tribo exclusiva, onde só os eleitos podem entrar. Ao mesmo tempo, o feérico templo onde uma numerosa fila de aspirantes gostaria de entrar, uma vez na vida que fosse.
Depois lê-se, algures num jornal especializado em economia, que o Banco Millennium quer chamar a si 25% dos afortunados que possuem mais de 500.000 euros. E acertam-se as peças do puzzle, que encaixam na perfeição: agora percebe-se a encenação filmada para a campanha publicitária do Banco Millennium. O público-alvo pertence à abastada casta que o banco que atrair. São as mesmas pessoas que convivem em círculo fechado, que frequentam as festas fascinantes onde os senhores passeiam a fátua pose fleumática dentro do smoking e as senhoras tecem capciosos comentários sobre os temas ocos em que são especialistas, lavrando o terreno de onde se erguem na sua feição de alcoviteiras.
Este é o imaginário da espuma fina onde só os eleitos do estrelato social têm lugar. Um lugar cheio de kitsch: os vestidos com as lantejoulas, que à chegada vêm tapados pelos longos casacos de pele de animal verdadeiro; os smokings que vestem de uma indiferenciada maneira os aprumados varões que orquestram as coisas mais importantes desta terra. Os outros são convidados ao sonho, restando-lhes um cheirinho do imaginário. Só para ficarem a sonhar, numa saudável inveja dos felizardos que por lá andam.
Ainda não consegui que me explicassem esta sede de protagonismo social que reproduz tiques importados de outras paragens. Uma terra que sempre foi conhecida – e bem retratada por escritores – como um lugar de abrutalhadas almas; uma terra onde o republicanismo impera; uma terra tão causticada pelo jacobinismo; e, mesmo assim, deslumbrada com os feixes de néon que perpassam os eventos onde a nata da sociedade ostenta a sua condição.
À parte esta incógnita da equação que não consigo resolver, fica a parolice latente inscrita no código genético da nata social. Quando vejo os dois actores que dialogam ensacados no smoking de aluguer, e quando ouço o diálogo mais improvável que os publicitários podiam congeminar, é de Daniel Proença de Carvalho que me lembro. A referência deste kitsch deslumbrante, o exemplo para a tribo que está no patamar inatingível do topo social.
1 comentário:
Nada a opor ao post. No entanto, desculpa a ignorância: o que é que o Proença de carvalho tem a ver com o caso?
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