10.9.18

Obsoleto (short stories #27)


The Sound, “Winning” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=TUmF8xuSyoA
Da frente para trás, para poder convocar o impecável oráculo que adivinha o passado quando ele é visto desde o futuro; e para poder garantir que alguém é obsoleto, imprestável para os desafios consultados desde a magnífica varanda da modernidade. Obsoleto: como se sê-lo fosse uma sanha; e como se houvesse um manto de infalibilidade dos juízes que decretam a obsolescência de alguém. No conciliábulo das coisas datadas, até para os que se esquecem do passado (porque não é nessa dimensão que a vida é levada) a acusação impenitente que se abate sobre o obsoleto é uma ferida em carne viva. Quase apetece navegar pelas mesmas águas integrantes da obsolescência recusada (mesmo que nada haja nelas que cative um módico de identificação). A soberba dos gurus da modernidade (dos que assim se autoproclamam) é o convite perfeito para transitar nos seus antípodas. Quando surgem, ufanos e assertivos nas sentenças à prova de contestação, motivam um repúdio liminar. Não fosse dado saber das águas constitutivas em que navego, diria que o chamamento das coisas datadas e lançadas para a indigência é heurístico; não fosse saber que não alinho nessa comunhão, e não fosse saber o lugar que habito, a infâmia dos gurus da modernidade quase me atiraria para uma orfandade de referências (não fosse o mundo muito mais complexo do que a leitura binária destes gurus). Aos que ditam as modas e selam com sua imensa presciência o fardo pesado da obsolescência, fica a calúnia de não se conseguirem extrair do pequeno mundo em que lobrigam. É uma forma peculiar de autismo. Com a agravante de que se acham possuídos de dotes especiais, talvez com uma qualquer cobertura divina, para ditarem regras que os demais devem acatar. De tanto ditarem (modas e regras e os estamentos do que é datado), são autênticos ditadores. E os ditadores, o máximo que merecem é o mutismo da nossa atenção.

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