Era aquela curva, que se fazia sempre mais depressa. Contra a apoplexia que pairava durante uns instantes – os exatos instantes em que a curva era dobrada –, sem se saber se os limites estavam a ser desafiados, constituindo-se deslimites. Havia sempre uma velocidade estonteante por experimentar, atirando os limites para as baias do excesso. Dizia que a intrepidez não era caução de demência nem de irresponsabilidade. Era zelador das chaves das circunstâncias controladas, como quem precisava de provar a si próprio que não era disparate o excesso cometido. (E se não era disparate, não era excessivo – concluía, antes de travar conhecimento com a filosofia da complexidade.) A certa altura, encontrei prova de outros mais destemidos (e com o beneplácito das autoridades, ao contrário das proezas que cometia, fora dos limites da legalidade). Na Finlândia, os limites têm outro significado. E assim contemporizava a análise a meu favor. Os limites não toleram limites objetivos. Aquela curva, que dominava contra as probabilidades da imoderação, era o palácio da minha coragem. Nem sabia se a curva fora testemunha de proezas de semelhante igualha, ou se até houve quem a dobrasse mais depressa. Não importava. Aquela curva era o tempero da minha imortalidade. O alforge dos excessos. Deificava-me no sopé dos excessos. (Como se fosse preciso acreditar em deus.) E continuava a desafiar a geografia da curva. Nunca soube se era fautor de um excesso. Nunca fui derrotado pela curva, por mais veloz que a desenhasse. Na frágil fronteira entre a derrocada e a audácia, dei conta de um imenso deserto por dentro da euforia dantes alinhavada. Pois se nunca soube ao certo onde estava o limite daquela curva, não podia ser acusado de excesso. E por mais que o pundonor fosse selado como epítome, lá no fundo sabia que era estranhamente estroina para diluir o medo no arame da euforia. De uma euforia sem sabor. Pois era minha dádiva não ter sido desfeiteado pela curva que teimavas em adestrar na corda bamba.
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