Já não é a primeira, nem a segunda vez, que aqui ficam palavras de perplexidade pela intolerância que certos “democratas” mostram perante as ressonâncias da extrema-direita. Tenho que regressar outra vez ao tema. Sinto vergonha destes estandartes da democracia que expelem a sua intolerância em relação à extrema-direita, assobiando para o alto quando se trata de passar os comunismos pelo crivo das consciências. Até parece que houve (e há) ditaduras más e ditaduras que, se não são virtuosas, merecem a indulgência destes “democratas” enviesados.
O último escândalo aconteceu no Reino Unido. Uma afamada bailarina, Simone Clark, cometeu o pecado de revelar a sua simpatia pelo partido de extrema-direita (United Kingdom Independence Party – UKIP). Saltaram da toca os guardiães da democracia, protestando contra a liberdade de pensamento que assiste à bailarina, como assiste a qualquer pessoa que viva em democracia. Porventura esquecem-se que a democracia se gaba disso mesmo, de se distinguir das ditaduras pela tolerância que permite aos seus detractores manifestarem as respectivas opiniões. Por mais sórdidas que sejam, mesmo que exibam um pensamento atentatório da democracia.
Estacionados à frente do Coliseu de Londres, onde a bailarina exerce a sua função, protestam contra a fascista bailarina: “o ballet deve estar livre de nazis”, apregoavam. Eis como, de repente, uma reputada bailarina caiu na desgraça. No exacto momento em que revelou a sua filiação ideológica, deixou de ser boa profissional. Há duas coisas que estes pastores da democracia não percebem: primeiro, a exibição da antítese da democracia, com a lamentável manifestação de intolerância que renega um dos valores mais acarinhados (pelo menos em teoria) pelo regime democrático; segundo, a tendenciosa parcialidade que lança o opróbrio sobre uma artista, que perde qualidades (aos olhos que quem protesta) devido às suas convicções.
É curioso que outro dos pregões repetidos à porta do teatro tenha sido “não ao fascismo e ao racismo no ballet”. Quem entoou estas palavras não terá percebido que estava a mostrar o contrário do apregoado. Os próprios manifestantes mostravam o seu racismo, variante ideológica. Desavergonhadamente, estavam ali a enlamear o nome da artista, como se as convicções ideológicas afectassem as qualidades artísticas. E como se o facto de Simone Clark ter revelado simpatia pelo UKIP fosse perigoso para a liberdade artística como valor. Ficou por explicar como pode a pertença ao partido da extrema-direita contagiar a companhia de ballet onde Simone Clark dança; ou o ballet como um todo.
O fascismo é deplorável? Com certeza. Daí a impedir os seus simpatizantes de expressarem as suas convicções, vai um passo rumo ao abismo. Àquele abismo onde os tais “democratas” se sepultam, para jamais conseguirem limpar a má imagem que deixam. O que me perturba é o seu olhar desequilibrado para as ditaduras. As que exalam o odor pestilento da extrema-direita – erradamente arrumadas no saco do fascismo, como se todas elas fossem fascismo – são censuradas. As ditaduras inspiradas no marxismo-leninismo (e suas variantes) merecem uma estranha complacência dos que saem à rua e gritam palavras de ordem contra o fascismo. Para mim, ambas as formas de ditadura são merecedoras do mesmo descrédito. O que não me leva a enveredar pela tentadora intolerância contra quem professa ideologias totalitárias. A liberdade de expressão é o valor maior. Não deve ser negado a ninguém. Nem àqueles que advogam ideologias que renegam esse valor.
Sem lugar para arrematar a imbecilidade, os manifestantes de Londres desenterraram o passado ominoso do fascismo, a sua relação conturbada com a criação artística. De acordo com a notícia do Público, “quando os fascistas ascendem ao poder destroem a liberdade de expressão artística”, invocando René Blum, o coreógrafo que fundou o Ballet de l’Opera de Monte Carlo e morreu em Auschwitz em 1943. Fica-lhes bem a parcialidade de resgatar do passado o que apenas convém. Não escapam à mácula da parcialidade, contudo. Porque também podiam olhar para o outro lado e invocar, por exemplo, Alexandre Soljenitsyne, só para dar um exemplo entre muitos criadores que foram perseguidos pela sua dissidência em relação ao comunismo.
A atestar pelos parâmetros destes auto-proclamados defensores da democracia, não haveria jamais espaço a artistas que fossem partidários do fascismo. Nunca teríamos conhecido Ezra Pound. E, à escala doméstica, talvez isso explique que António Manuel Couto Viana seja um poeta menor, pela marginalização a que é votado. É o que dá, quando se mistura o que deve permanecer em níveis diferentes: arte e política. Com a vergonha adicional: estes convencidos pastores da democracia empestam-se com uma anti-democrata intolerância. Na deriva intolerante, revelam o que são: falsos democratas.
O último escândalo aconteceu no Reino Unido. Uma afamada bailarina, Simone Clark, cometeu o pecado de revelar a sua simpatia pelo partido de extrema-direita (United Kingdom Independence Party – UKIP). Saltaram da toca os guardiães da democracia, protestando contra a liberdade de pensamento que assiste à bailarina, como assiste a qualquer pessoa que viva em democracia. Porventura esquecem-se que a democracia se gaba disso mesmo, de se distinguir das ditaduras pela tolerância que permite aos seus detractores manifestarem as respectivas opiniões. Por mais sórdidas que sejam, mesmo que exibam um pensamento atentatório da democracia.
Estacionados à frente do Coliseu de Londres, onde a bailarina exerce a sua função, protestam contra a fascista bailarina: “o ballet deve estar livre de nazis”, apregoavam. Eis como, de repente, uma reputada bailarina caiu na desgraça. No exacto momento em que revelou a sua filiação ideológica, deixou de ser boa profissional. Há duas coisas que estes pastores da democracia não percebem: primeiro, a exibição da antítese da democracia, com a lamentável manifestação de intolerância que renega um dos valores mais acarinhados (pelo menos em teoria) pelo regime democrático; segundo, a tendenciosa parcialidade que lança o opróbrio sobre uma artista, que perde qualidades (aos olhos que quem protesta) devido às suas convicções.
É curioso que outro dos pregões repetidos à porta do teatro tenha sido “não ao fascismo e ao racismo no ballet”. Quem entoou estas palavras não terá percebido que estava a mostrar o contrário do apregoado. Os próprios manifestantes mostravam o seu racismo, variante ideológica. Desavergonhadamente, estavam ali a enlamear o nome da artista, como se as convicções ideológicas afectassem as qualidades artísticas. E como se o facto de Simone Clark ter revelado simpatia pelo UKIP fosse perigoso para a liberdade artística como valor. Ficou por explicar como pode a pertença ao partido da extrema-direita contagiar a companhia de ballet onde Simone Clark dança; ou o ballet como um todo.
O fascismo é deplorável? Com certeza. Daí a impedir os seus simpatizantes de expressarem as suas convicções, vai um passo rumo ao abismo. Àquele abismo onde os tais “democratas” se sepultam, para jamais conseguirem limpar a má imagem que deixam. O que me perturba é o seu olhar desequilibrado para as ditaduras. As que exalam o odor pestilento da extrema-direita – erradamente arrumadas no saco do fascismo, como se todas elas fossem fascismo – são censuradas. As ditaduras inspiradas no marxismo-leninismo (e suas variantes) merecem uma estranha complacência dos que saem à rua e gritam palavras de ordem contra o fascismo. Para mim, ambas as formas de ditadura são merecedoras do mesmo descrédito. O que não me leva a enveredar pela tentadora intolerância contra quem professa ideologias totalitárias. A liberdade de expressão é o valor maior. Não deve ser negado a ninguém. Nem àqueles que advogam ideologias que renegam esse valor.
Sem lugar para arrematar a imbecilidade, os manifestantes de Londres desenterraram o passado ominoso do fascismo, a sua relação conturbada com a criação artística. De acordo com a notícia do Público, “quando os fascistas ascendem ao poder destroem a liberdade de expressão artística”, invocando René Blum, o coreógrafo que fundou o Ballet de l’Opera de Monte Carlo e morreu em Auschwitz em 1943. Fica-lhes bem a parcialidade de resgatar do passado o que apenas convém. Não escapam à mácula da parcialidade, contudo. Porque também podiam olhar para o outro lado e invocar, por exemplo, Alexandre Soljenitsyne, só para dar um exemplo entre muitos criadores que foram perseguidos pela sua dissidência em relação ao comunismo.
A atestar pelos parâmetros destes auto-proclamados defensores da democracia, não haveria jamais espaço a artistas que fossem partidários do fascismo. Nunca teríamos conhecido Ezra Pound. E, à escala doméstica, talvez isso explique que António Manuel Couto Viana seja um poeta menor, pela marginalização a que é votado. É o que dá, quando se mistura o que deve permanecer em níveis diferentes: arte e política. Com a vergonha adicional: estes convencidos pastores da democracia empestam-se com uma anti-democrata intolerância. Na deriva intolerante, revelam o que são: falsos democratas.
1 comentário:
To the point. A Europa parece cativa de uma minoria intelectualóide de esquerda que professa a tolerância por tudo aquilo de que gosta ( a "cultura que produzem", a estatização, o consumo de estupefacientes, impostos muito elevados para quem rendimentos superiores à média, a homosexualidade) e depois demonstra a mais profunda intolerância por tudo aquilo de que não gostam porque representa a .... intolerância (?!?). O BE encarna em Portugal essa maneira de estar e de pensar.
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