In http://www2.ufp.pt/~pedros/bq/Enzimas_html_m29e7092b.gif
O espantoso seria se não chegassem novas absurdas. Um em cada quatro novos alunos do Instituto Superior Técnico (IST) não é capaz de resolver a complicada operação aritmética que consiste em somar um meio com outro meio. A parte deliciosa da notícia é que a malta que vai dar com os costados nos bancos do IST vai para cursos onde a matemática é ferramenta imprescindível. Daqui virão alguns dos futuros engenheiros da mais variada espécie. Eles entram no IST com um admirável cartão de visita.
Eu não queria escorregar outra vez (mais uma vez) para o “quase engenheiro” que ainda temos que aguentar como primeiro-ministro. Lá tem que ser: tenho uma desconfiança que se o inquérito fosse feito aos ilustres membros do governo, ele faria parte do contingente de 25% de iliteratos da matemática (será que existe o conceito?). Não vou bater mais no ceguinho, contudo. Por este andar, ainda alguém virá protestar contra a divulgação da notícia, denunciando a insinuação cabalística que cobiça o “assassinato político” de sua excelência.
Talvez fosse de perguntar aos neófitos alunos do IST (e aos que por já lá andam) se sabem traduzir a fracção ¼ em percentagem. Aí vem a resposta gratuita por quem deixou para trás a matemática no nono ano da escola secundária: 25%. É a percentagem de jovens (e, talvez, não tão jovens, se entrarem pelo tapete vermelho que se estende aos que têm mais de vinte e três anos) que não sabem somar meio com meio (ou, se preferem números, 0,5+0,5). Parece que há quem confunda os sinais – o mais pelo vezes – e responda 0,25. Às vezes dava jeito aos governos pródigos na batota. Seria como operar o milagre da redução das despesas mesmo quando elas se somam umas em cima das outras. Tomara aos governos mal comportados que a junção de duas metades de uma laranja desse apenas um quarto da dita. A eles, e aos gordos que querem emagrecer mas não resistem ao apelo da gula.
Quando soube do elevado grau de iliteracia matemática da malta que anda pelo IST, fiquei contente. Parece absurdo, eu sei, mas este é um contentamento que começa e acaba dentro de mim. Uma das frustrações pessoais é ter abandonado a matemática tão cedo. Fui traumatizado por más professoras durante três anos seguidos. Vítima da gestão impecável do ministério da educação, tive a matemática toda metida à martelada em dois dos três períodos. Nesses anos, passei à tangente. Agora noto como mais matemática faz falta. Tenho que fazer malabarismos quando esbarro em complexas equações. Salto para a parte com letras, onde as conclusões estão sumariadas. Ora, enchi-me de contentamento porque afinal tenho mais proficiência algébrica do que 25% dos meninos e meninas que entram no IST.
Se fosse bota-de-elástico (resisto com todas as forças a sê-lo), diria que devíamos ficar ansiosos pelo futuro das pontes e estradas e edifícios ao alto e sistemas electrónicos que sairão dos estiradores destes futuros engenheiros. Há uns anos, um engenheiro (a sério) primeiro-ministro ficou enrascado em directo por não saber calcular uma percentagem do PIB em dinheiro sonante. Lá mais para a frente, teremos engenheiros da mais variada espécie a fazer cálculos obtusos com interferência na solidez do que se constrói.
E qual é o problema? Se cair, volta-se a pôr de pé. É com os erros de trás que emendamos o que vem para a frente. Assim como assim, as modas pedagógicas mandam dizer que as universidades já não existem para ensinar. Agora, elas ensinam a procurar as ferramentas. Os alunos que se desenrasquem. Como é belo o futuro que vem por aí.
(Em Roma)
1 comentário:
Quando li esta notícia fiquei admirada, afinal, estamos a falar de duas metades. As fracções foram uma matéria que absorvi muito bem, porque a professora, para melhor explicitar, serviu-se de um exemplo que me agradou sobremaneira. Desenhou um círculo no quadro preto a que chamou um bolo, supondo que o bolo era dividido em cinco fatias, cada uma destas representava um quinto. E assim sucessivamente íamos dividindo o bolo em mais ou menos fatias. Muito me divertia eu a dividir o "bolo", que imaginava doce e bem amarelhinho. Como naqueles tempos de criança raramente comia bolos, porque os pobres comiam o que havia, se é que havia, ou se havia era sempre pouco, aquela ideia exerceu um estranho fascínio sobre mim, de forma que jamais me esqueci.
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