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Ou é da mania das grandezas, ou nunca percebi bem a jactância de certos figurões quando são passageiros da classe executiva. A diferença de preços (cor norma, um bilhete em executiva custa o dobro de um bilhete em económica) não presta justiça à diferença de serviço e de comodidades. Talvez faça diferença numa viagem longa, numa viagem transatlântica. Em voos de curta e média duração, não justifica a diferença de preço. A menos que andar em executiva contribua para a cagança de uns certos pipis.
Só andei em executiva um punhado de vezes. Na maior parte dos casos, por deferência de um primo que trabalha numa companhia aérea e que fez o upgrade do bilhete. Noutra vez foi a diferença entre ficar em terra e ocupar o único lugar vago, um lugar em executiva, devido às maravilhas do overbooking que os matemáticos se apressariam a explicar com uma elaboração da teoria das probabilidades. E o que é a classe executiva? Um pouco mais de espaço para as pernas. Tratamento pessoal e direito a uma mudança de chip das hospedeiras, que subitamente se desdobram em simpatias desconhecidas a quem viaja em económica. Um sumo de laranja ou um flute de champanhe antes do avião descolar. Os jornais todos à disposição – as sobras ficam para a maralha sentada em económica. O casaco metido numa cruzeta e arrumado pela hospedeira. Uma ementa melhor, mas ainda assim digna da frugalidade que o espaço exíguo do avião exige. Antes de embarcar, o direito de repousar no VIP lounge.
Tudo isto vem a propósito de quê? O maldito aperto orçamental causado pela crise vai obrigar os senhores deputados a viajarem junto à maralha, em classe económica, quando os voos tiverem duração inferior a três horas. Há quem se insurja: é desprestigiante para suas excelências. Assim como assim, são os lídimos representantes da pátria eleitora. A dignidade da função justifica regalias. Imagine-se só o que vai acontecer doravante, quando suas excelências perderam a regalia da executiva: tomam o lugar 16D e sujeitam-se a ter como vizinho um boçal qualquer que aproveita a “má companhia” para vociferar contra a classe política em geral.
Não devia ser admitido que as castas viajassem junto da ralé. Para não ficarem expostas à boçalidade da ralé. Um dia destes toca à classe política a mesma crise que atinge o sacerdócio católico: uma crise de missões. Já poucos querem ser padres. Com a perda de privilégios da nata política, ser político ficará reservado a quem não conseguir fazer mais nada na vida (a não ser trepar na hierarquia partidária). As castas políticas serão compostas por gente medíocre e oportunista, por gente iludida com os holofotes do poder.
Mas ele há gente com privilégios. Há dias, iam num voo entre Lisboa e Genebra vários figurões indígenas a caminho da reunião de uma organização internacional. Deputados, a ministra titular da pasta e o secretário-geral da UGT. Só os deputados tinham assento em lugares da classe económica. O Dr. Proença (mais a ministra) foi apanhado a deliciar-se com as regalias da classe executiva. A ordem é rica. Até podemos adivinhar que o bilhete do Sr. Proença terá sido pago pela organização internacional. Mesmo assim, a prosápia do sindicalista pede meças a um certo aburguesamento dos párias do capitalismo.
Posso estar enganado, mas talvez fizesse sentido o Sr. Proença abdicar dos tratos de polé da classe executiva e juntar-se, lá atrás na económica, a suas excelências os deputados da nação. A menos que o secretário-geral de um conglomerado de sindicatos seja mais importante do que os deputados à Assembleia da República. Por estes dias em que campeia uma tremenda confusão, quem sabe se assim não é?
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