13.7.10

Catalunha


In http://cafemismamente.files.wordpress.com/2009/11/catalunya-espanya2.jpg
(Provocação ao cuidado da embaixada espanhola.)
Agora que são os maiores da bola e andam de papo inchado – por fim confirma-se a prosápia: são os melhores do mundo, até na bola – desenganem-se: a Espanha é uma artificialidade. Convém que não distorçam factos: sete em onze dos que entraram em campo para ganhar a taça eram da Catalunha. Da Catalunha... Só por miopia considerável, ou por oportunismo tribal, é que cantam glória. Dois terços da taça vai para a Catalunha. A bem dizer, este feito é uma espinha cravada na garganta da Espanha imperial.
Acompanho alguns órgãos de comunicação social espanhóis. É impressionante a cegueira nacionalista quando consagram as vitórias de desportistas seus. Ou, mais ainda, quando não têm fair play para reconhecer a justeza da vitória dos atletas que derrotaram os espanhóis. Alguns, mais por dentro do fenómeno desportivo nacional e da imprensa da especialidade, dirão: não é nada que não conheçamos por cá. Só que há uma diferença que não é detalhe. Quando se folheiam jornais espanhóis, nota-se um arrebatamento irracional, um culto exacerbado da nacionalidade. Não é por acaso que, ao fazermos comparações entre idiossincrasias nacionais, espanhóis e franceses rivalizam no apogeu do chauvinismo.
Esta é a minha teoria: só um país que o seja à custa de uma argamassa forjada é que eleva os sinais de pertença ao máximo expoente. Quando a pertença é genuína e não se fragmenta em diversas nacionalidades (asfixiadas ao jugo centralista), não se puxam os galões a um nacionalismo anacrónico. Que esse nacionalismo seja massajado à exaustão quando há competições desportivas nacionais que, erradamente, põem as “nações” em compita, é outro sinal de como anda torto o mundo. É que não são as “nações” que se digladiam, como se fosse uma versão revista das espúrias guerras que foram teatro das relações ancestrais entre povos. Por detrás desse atavismo encontra-se a essência das competições: o esforço de atletas, um esforço individual – ou o somatório de esforços individuais, quando a competição é colectiva.
A sede da Espanha em gritar a pulmões abertos a vitória, agora que estão por quatro anos no topo dos que jogam à bola, terá explicação na profunda crise para que foi atirada pelo incompetente socialista governo de Zapatero. Ou num fenómeno que vai além dessa conjuntura, um fenómeno estrutural: a ansiedade de quem vê o frágil cimento espanhol acossado pelo mosaico de nacionalidades reprimidas. Uma das nacionalidades mais fortes é a catalã. Se eu fosse espanhol, e se fosse importante o feito da equipa da bola para a auto-estima associada à pertença (o que, conhecendo-me como conheço, duvido que acontecesse), só se tapasse o sol com a peneira é que não ficaria angustiado com a glória dos atletas.  É que dois terços daquela equipa vinha da Catalunha. De uma equipa que faz gala em afirmar o desejo de independência da Catalunha.
Esta ibéria está amarrada a uma confluência de destinos contraditórios. Há os que aspiram à unidade dos Estados (não das nações) ibéricos. E há os que empurram para níveis inferiores a organização política ideal, pulverizando a Espanha nas suas diversas nacionalidades. Em vez de unidade, desagregação. Os actuais Estados decompostos nas suas várias nações. Para os que se interessam pelo fenómeno da bola, fica a seguinte especulação: até assim a Catalunha seria triunfal.
Em jeito de remate, não percebo por que andam tão contentes os espanhóis. Tomaram como sua uma glória que muito se deve a catalães que não se revêem na Hispânia. Esta vitória é um hino à autodeterminação catalã. Não é uma cura para a depressão em que Zapatero e os seus meteram a Espanha. É mais lenha para a fogueira onde essa depressão arde. Há feitos que vêm por mal.

1 comentário:

Dylan disse...

Não posso concordar consigo. Como diz em post´s antigos, não podemos generalizar. De facto, também existem catalães que não se revêm nestes nacionalismos exacerbados disfarçados de regionalismo. Para esses, a vitória de Espanha foi de um povo inteiro, não de uma província.