18.8.25

A opinião em público é uma atividade de desgaste rápido

Royal Blood, “Roxane” (live at the Live Lounge), in https://www.youtube.com/watch?v=FZ1-Tcgcvm4

Quem opina fica à mercê das opiniões dos outros sobre essa opinião. Pode ser uma atividade de desgaste rápido, sobretudo se quem opina se incomodar com os comentários desagradáveis dos profissionais do comentário amador.

Não está em causa silenciar as caixas de comentários. Os jornais que as contemplam merecem aplauso: assim como assim, à possibilidade de escribas amadores serem acolhidos nas colunas de opinião dos jornais deve corresponder o escrutínio público dessa opinião. É o preço que os cronistas amadores pagam por terem a sua palavra levada à letra de forma: estão a jeito das reflexões feitas por quem os vier a ler.

Também não está em causa um crivo mais apertado para impedir comentários desagradáveis. Esse é outro preço a pagar pela exposição pública. Palavras mais contundentes, ou palavras mais controversas, ou apenas ideias treslidas (afinal, tresler também é um direito, não é só uma afeção), podem causar reações de acrimónia. Não se pode contrariar essas tentativas de enxovalho. Quem desliza para a contundência ou para a controvérsia tem de estar preparado para o desagrado que as suas palavras causam; deve ter poder de encaixe para ler palavras contundentes ou controversas sobre as palavras que escreveu. Deve, até, esperar um ataque pessoal, que as caixas de comentários estão colonizadas por personagens que as aproveitam para destilar o fel mal destilado noutras instâncias.

A capacidade de encaixe dos cronistas amadores pode variar consoante os traços de personalidade. Há quem dedique total indiferença ao azedume que lhe é destinado; há quem fique abespinhado pelas palavras desagradáveis que o(a) põem em causa; há quem entre em diálogo com os seus comentadores (a melhor maneira de perder tempo inconsequentemente); há quem se dedique a colecionar preciosidades recolhidas de excertos de comentários que são reveladores de quem os escreve. Não acredito que um cronista amador seja indiferente aos comentários que refletem sobre as suas ideias. Nem que seja pela curiosidade felina de espreitar o que está escrito sobre o que escreveu, o cronista amador lá vai espiar a caixa de comentários.

O que retenho é a perícia dos profissionais do comentário amador em treslerem as palavras que comentam. As pessoas estão muito tribalizadas, acantonando-se numa defesa intransigente das suas posições e das suas cosmovisões. Têm pouca, ou nenhuma, tolerância para serem confrontadas com ideias diferentes das suas. Cristalizam-se em seus redutos e daí à polarização vai um pequeno passo. E mesmo quando não é o caso, transformam, através da sua tresleitura caldeada por uma reação destemperada, palavras num sentido que elas não têm, mas que lhes agrada, nem que seja para, através do ataque às palavras de outrem, defenderem as posições de que partem (sem que elas estivessem em causa pelo texto que dá origem ao comentário).

Estes mal-entendidos saldam-se num clima tempestuoso que habita (muitos) profissionais do comentário amador. E torna o espaço público um lugar cuja frequência não se recomenda.

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