Hooverphonic, “Eden”, in https://www.youtube.com/watch?v=bWPOLL_Rr8U
O rosto sorridente encontra o estuário do dia e cumprimenta-o. Pergunta pelo inventário desabitado: acredita que os dias começam de um nada e se amontoam nas várias camadas que os vão atravessando. A alma amanhece apta, saciada no refrigério que é sempre um começo. Uma alma assim surge aos olhos demais tingida por uma miríade de cores que a tornam apetecível. É uma daquelas almas que dão vontade de conhecer. Ela não se importa; isto é: não faz questão de se tornar popular aos olhos que com ela querem travar conhecimento. Prefere a sobriedade, sem deixar de ser uma alma boa. Prefere a generosidade sem ostentação, proibindo a publicidade à generosidade que não chega a ser lavrada num livro de memórias. A alma boa não se amedronta com o crepúsculo que fecha as janelas à luz preponderante. A luz deixa de ser preponderante, sob os auspícios do crepúsculo que tomou conta do seu lugar. A alma boa sabe sopesar as coisas nos seus devidos lugares. O crepúsculo toma o lugar que pertence à luz que continua a irradiar nos bastidores. A boca entroniza o Outono amadurecido enquanto a fala se congemina nas estrofes que acertam contas com o tempo proscrito. A alma não olha para trás. Sem negar provimento à matéria emoldurada, a alma é boa porque se atira de frente ao tempo que tem uma safra tangível. A ossatura que se oferece é uma paisagem extravagante que levita as almas para além dos domínios respetivos. Os viajantes são os escolhidos na taluda da bondade. São tantas as cores, os lugares, os aromas, os idiomas e as pessoas que num apanhado da mediana se consagram como almas que se elevam nas preferências da bondade. Da parte dos deuses, nota-se uma inveja indisfarçável: quando forem grandes, querem ser como as almas boas.
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