Deftones, “Infinite Source”, in https://www.youtube.com/watch?v=U_uVVO7eGic
Nas escolas ensinava-se: não é a História das pessoas que conta, é a História das instituições. Uma criança, talvez sobredotada, perguntou ao professor se as instituições não eram fabricadas por pessoas e, nessa medida, em que medida estava errada a lição das escolas que doutrinavam as crianças sobre as instituições como o cimento das pessoas. (Não terá sido com estas exatas palavras que o estudante se dirigiu ao professor, mas andou lá perto.) O professor, formatado para formatar os estudantes, engasgou-se e gaguejou, quase ao mesmo tempo, ao debitar o lugar-comum vertido no manual. Inseguro sobre a sua própria explicação, quis virar a página e avançar no plano da aula. O rapaz não estava satisfeito com a resposta e fê-lo notar de viva voz. O professor teve um princípio de suores frios e tentou arranjar uma metáfora para explicar como as pessoas não são nada sem terem instituições a ampará-las, saindo-se com este esboço: as pessoas precisam de cuidados de saúde e usam o serviço nacional de saúde e da segurança social; as pessoas precisam de cobrir riscos e contratam seguros; as pessoas envelhecem e precisam de garantir a sobrevivência financeira, recebendo pensões de reforma; as pessoas querem garantir direitos básicos, não económicos, lançando mão do sistema político que garante esses direitos. O rapaz insistiu: mas não foram pessoas que fabricaram todas essas instituições? Quando as instituições são modificadas, não é verdade que são pessoas que estão na origem dessas alterações? O professor ainda ficou mais lívido com a tenacidade do estudante. Não conseguiu melhor explicação do que responder que as pessoas fabricam e modificam as instituições, mas quando o fazem não atuam como indivíduos, personificam uma voz coletiva que é a cofragem das instituições. Quando o rapaz saiu da aula, não estava convencido. A História das instituições era um eufemismo para a História das pessoas protagonistas. Também percebeu que o futuro seria igual ao manual que serviu de teleponto mental para o professor. Para os estudantes, é mais cómodo debitar a doutrina dos manuais do que pensar pelas suas cabeças.
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