The Stranglers, “Always the Sun”, in https://www.youtube.com/watch?v=cYQTL-ws6p4
“Easier said than done”.
Estava de rastos. Os pastores faziam de conta, ali depostos sem rebanho para comandar. O sol escondia-se com medo dos ativistas do clima; temia que o fossem sabotar. Ainda bem que não estava de chuva: se estivesse, ao andarem de rastos iam ficar todos enlameados. Desatributo de que todos fogem, por causa da mácula enxertada na lama.
Ouvia-se dizer que os bloqueios interiores eram passageiros e só aconteciam porque as pessoas não se esforçavam para bloquear os bloqueios. Um guru das almas (mas só daquelas que são exteriores): “tens de trazer à superfície a força telúrica que está escondida em ti.” Ato contínuo, ia consumir as mágoas que tinha de disfarçar para não comprometer o disfarce de guru das almas. Um dia, foi apanhado a chorar copiosamente. Tentou emendar a mão: acabara de sair de casa, onde estivera a preparar um refogado, e a cebola era arisca.
O pobre guru tinha perdido muita clientela. Aprenderam a crescer e não precisavam de alguém para os encaminhar devidamente. Mas a principal razão para se divorciarem do guru é que se cansaram de ouvi-lo dizer, sem a menor convicção: “tens força dentro de ti, usa-a a teu favor.” Ai de algum seguidor que contrapusesse: “é mais fácil dizer do que fazer”; ao guru pouco faltava para trepar paredes, tal o estado iracundo – mal ficavam os seguidores que, ao dizerem tamanha tontice, desperdiçavam todos os ensinamentos que já tinham sido pagos ao curador das almas.
Preferiam estar acocorados no chão, sentir a textura pedregosa que não era convidativa ao repouso; preferiam aprender a lidar com as dores interiores, em vez de projetá-las no guru que generosamente se oferecia para aplacar as angústias. Cresceram, mesmo aqueles que já tinham idade biológica para ter crescido há algum tempo. O passa-a-palavra cuidou da posta restante. Outros trapaceiros desencartados perderam clientela e tiveram de mudar de negócio. Agora, a gastronomia fina estava na moda. Com meia dúzia de aconselhamentos, o tirocínio numa escola turbo-comprimida e conhecer as pessoas certas nos lugares certos, podiam ser os chefes do momento. Assim como assim, as pessoas alimentam-se de comida, não do acompanhamento que as ajuda a tratar dos males interiores.
As pessoas anónimas, as que nunca demandam este protagonismo e não ambicionam constar das primeiras páginas das revistas rosadas, ainda deram algum crédito aos chefes de cozinha desviados à charlatanice. Foi sol de pouca dura: os cozinhados só eram imodestamente originais. Oxalá fossem sujeitos a uma sindicância mais apertada. Concluir-se-ia que não tem préstimo mensurável uma pessoa fazer-se passar por quem não é.
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