19.12.18

Fusão nuclear


Shame, “Dust on Trial”, in https://www.youtube.com/watch?v=AiFxUhgU4LE
A sobreposição de ideias inflama o pensamento. Não é terreno árido – e ainda bem. A constelação de cores que se enxameia no horizonte é uma centelha que aspira melhor condição. Talvez falte tempo para arrumar todas as proveniências em lugar certo, mas não importa. As prioridades são o critério acertado. Agora, umas ideias cuidam de arrematar lugar. Outras ficarão para mais tarde. Se for necessário, a meio do processo enxertam-se no exercício presente alguns rudimentos do que tinha ficado para memória futura. As múltiplas origens cuidam de amplificar a originalidade do pensamento em esboço. Nunca fez mal ser curador da versatilidade: é garantia mínima da denegação do marasmo. 
O risco maior é de o labirinto ser um emaranhado sem solução. Antes essa complexidade que os simplistas meandros por onde possa desfilar o pensamento. Antes a miríade de interrogações cavalgando umas nas outras, a certa altura perdendo o fio à meada às interrogações primeiras. À margem da página, vão-se anotando, em forma de mnemónica, as pendências. Pode ser que se regresse a elas, em tentativa de resolução. Pode ser que outras empreitadas, entretanto emergentes, exijam a sua supressão. O método existe. E mesmo que soe caótico ao olhar do observador exterior, não é relevante a verificação: não é o observador exterior que adestra os caminhos do pensamento, não é ele que se sente cercado pela maré vultuosa das demandas. 
O mapa cuidadosamente tecido recebe as anotações extraídas dos pensamentos que se sobrepõem. Já não há lugar para o pensamento reduzido a uma dimensão. Já não há paciência para essa estreiteza, o pensamento reivindicando um espaço que transborda da claustrofobia onde se refugia o quadro mutilado de um pensamento que recuse outros parâmetros. Deixaram de ter vencimento os mimetismos que se limitam a reproduzir palavras gastas, ideias que se extinguiram nos seus limites. O amanhã exige o pensamento ermo, o pensamento que se afiança nos horizontes que se desenham para além dos limites conhecidos. 
Arrisca-se o desmétodo? Provavelmente. Pode, contudo, ser um método singular que procede do esvaziamento do método antes consagrado, mesmo que não tenha regras no momento da sua criação. Pode traduzir o oposto do convencionado e, nessa medida, trespassar os cânones. Talvez seja necessária uma rutura. Um salto em frente, sem saber ao certo, e à partida, a que cais se possa ancorar o pensamento depois da aventura que empreende. 
A complexidade prometida é uma densa nuvem que não deixa pressagiar fácil demanda. Antes assim. Os desafios não quadram com facilidades instaladas. E se as pendências prometem adiadas conclusões, regressa-se, num passo atrás, para entender por onde podem avançar os passos em espera.

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