12.12.18

O fardo dos jovens


Joy Division, “Decades”, in https://www.youtube.com/watch?v=y9sYRgSRnq8
(Mote: “Here are the young man/the weight on their shoulders”, Joy Division, “Decades”)
O filme que passa em presságio do porvir é tingido por sombras, um filme a preto e branco – propositadamente com uma claridade desmaiada e a tender para a penumbra. O filme que passa não é o recorte de uma geografia agradável. Este mundo não foi feito à medida dos mais novos. É um mundo construído em cima de injustiças.
Vou lá atrás, quando tinha a idade dos jovens que estão à minha frente, grande parte desinteressados no que tenho para lhes contar (e os outros, talvez fazendo de conta que fazem uma mínima noção do argumentado). Vou lá atrás, quando estava a concluir a licenciatura. Não eram fáceis as promessas de emprego, depois de completar os estudos. Já era muita a concorrência e, como agora, havia estorvos pelo caminho que distorciam as oportunidades (a pertença partidária, o encosto a uma família de pergaminhos, uma rede de conhecimentos devidamente oleada, a bênção de uma estrutura religiosa – tudo servia para arrotear caminho à frente dos outros, sem contarem as qualidades intrínsecas de cada um). Dir-se-á: sempre assim foi e não há notícia que o futuro a seguir (que, entretanto, já se constituiu passado) viesse a ser diferente. A diferença é que, naquela altura, havia algumas migalhas para distribuir pelos neófitos licenciados. A diferença é que, naquela altura, ainda não tínhamos sido confrontados com tempo a mais de má condução dos negócios públicos, com catastróficos efeitos na esperança alinhavada pelas novas gerações que esperavam por um lugar sua pertença. A diferença é que, naquela altura, a demografia ainda não se tinha insubordinado contra as novas (e não tão novas) gerações. A diferença é que o labéu do desemprego ainda não afetava os que tinham estudos.
Hoje, o que sinto quando tenho diante de mim uma audiência jovem, é desesperança, desinteresse, incapacidade medrada antes do tempo, antes de terem provas por não chegarem a ser colocados à prova. Haverá algum demérito das novas gerações (com os riscos que uma generalização comporta). O passar do tempo tem sido testemunha desabonatória das sucessivas gerações. A desmotivação é concurso de desideias que frui entre os mais novos. Parece que o passa-a-palavra se contagia e os mais novos começam a padecer antes do tempo, por medida inerente ao malogro dos mais novos que são mais velhos do que eles, mas ainda não são velhos. 
Cabisbaixos, desinteressados, desmotivados, limitam-se a ser autómatos, imersos num universo muito próprio, sem coragem para assumir o tempo presente. Porque têm medo do futuro. Têm medo que o futuro seja mau conselheiro e que eles se façam sua vítima – e vítimas sem remédio. Os que não capitulam ao degredo como válvula de escape de um lugar desesperançado, afocinham na letargia. O filme é plúmbeo, arrastado, monocórdico, repetitivo, melancólico, sem sequer haver lugar à nostalgia por ausência de memória. Para muitos, o futuro não há de ser a rima que esperavam para as capacidades que obtiveram com os estudos. Será, esse futuro, uma valsa descompassada. Temo que muitos deles não cheguem a tempo do futuro – ou que o futuro seja um apeadeiro que falham por razões independentes da sua vontade.

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