4.8.11

Gravatas indigestas

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A gravata é um símbolo fálico”, Maria Belo, psicanalista, Público de 2 de Agosto de 2011
Estar de férias alça a cancela do tempo livre. E o tempo livre mata-se com o que está à mão. Com os jornais que não consigo deixar de ler nem por estar de férias (esse será o mal), a diferença é que os olhos se demoram na sua leitura. O que seria só leitura dos cabeçalhos das notícias, escasseasse o tempo em ausência de férias, pede aos olhos que se detenham no resto das letras que compõem a notícia. Assim desaguei no dossier que esboça uma história das gravatas e na sentença que serve de mote a este texto.
A psicanalista, ouvida pelo jornal, disse mais. Que a gravata é um torniquete das questões de género, que os homens a usam para a despótica e muito masculina maneira de exercer poder. E que o poder no feminino, porque é desapossado destes símbolos varonis, vem embebido num rosto humano, perfumado em simpatia.
Os símbolos, como todos os símbolos, desfazem-se numa miríade de significados. Depende de quem inculca o símbolo e o observa. Se a psicanalista descobriu um sentido fálico nas gravatas, faça-se-lhe a vontade. Eu, habitual utente de gravatas, vou fazer o exercício ao contrário: vou por dentro do labiríntico pensamento da psicanalista para tentar perceber, olhando ao meu, se há numa gravata atada ao colarinho de uma camisa uma conotação fálica.
Depois da análise do assunto no divã, eis a minha sentença. É como argumentava anteontem, há cientistas sociais e humanos que complicam por nada. Já alguém se interrogou se o uso de gravatas não procede de um simples gosto pessoal? É que se o exercício fosse por aqui, as elucubrações cheias de complexidade e segundos e terceiros sentidos não saíam da casa da partida. Só uma frígida pode rezar a fálica condição de uma gravata.
Todavia fiquei perplexo quando li que “a gravata é um símbolo fálico”. Tenho de zelar pela virilidade quando me desaposso da gravata. Ou, dito por outras palavras, se algum dia falhar no assunto, já tenho pretexto onde me agarrar: a falta de gravata desalinhou a virilidade.
(Em Vilamoura)

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