23.8.11

A terapia do perdão


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Os lençóis, o regaço para resgatar a lucidez. Abraçava-se à cama derreado, outro dia que parecia não ver o fim e o cansaço que mordia os lábios deixando-os em carne viva. As ideias atropelavam-se uma às outras, pareciam disformes. Algumas vinham à boca de cena como aberrações indistintas – era como se os pesadelos se insinuassem por dentro do cansaço. Não lhe pedissem decisões. Não lhe pedissem para cobrir com um pano branco as podridões que o importunavam.
Dormiu de um lanço só. O sono pareceu ter só um vão de escada, dormido a eito. Sem lembrança de sonhos ou pesadelos – parecia um sono estéril. Na alvorada, julgava-se um homem novo. Recuperado das diatribes diárias que o alquebravam. Subitamente, os dias sombrios tinham sido eclipsados do manual das lembranças rápidas. Entregue à indolência inicial depois do acordar, refastelou-se nos lençóis perfumados. Um sorriso indomável percorria os poros do rosto. As ideias jorravam, agora lúcidas, umas por cima das outras. As pessoais importunações eram, ao início, porosas evocações; à medida que dizia adeus ao torpor da alvorada, as importunações avivaram-se. Tanta era a indulgência que aterrara por milagre que as importunações perderam tal qualidade.
O dia nascera estranho. Não se lembrava se sonhara ou se tinham sido pesadelos a tomar conta do sono. Não se lembrava dos sobressaltos dos dias que tinham sido depostos na proximidade daquela manhã. E já pouco se lembrava do caldo das importunações que desfiavam desavenças mal resolvidas. Era capaz de apontar a dedo quem integrava o rol das importunações, mas não era capaz de puxar pela memória para tornar visíveis os motivos por que o eram.
Tomou uma resolução – ela também a rimar com a clareza da manhã: o perdão unilateral metido na caixa do correio de quem era pessoal importunação. Porque as asperezas extorquiam anos de vida, ensinou-lhe a manhã estranhamente abençoada. Oxalá do outro lado, onde residissem as outrora importunações, também houvesse vontade de perdoar.

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