25.8.11

A terra da preta terra


In http://findertrip.com/images/trips/small/cb12d43db308650b2202fa94277928ce.jpg.pagespeed.ce.6GR1hg-uNY.jpg

Às vezes punha-me a elucubrar na ferocidade dos elementos que pariram a Islândia. Que caprichos foram deixados aos vulcões para esta terra ser o que é? Enquanto o carro de aluguer se arrastava à velocidade imperativa, sobrava tempo para apreciar a paisagem, ora lunar ora feita de inesperadas estepes férteis, e para as interrogações que povoavam o pensamento. A terra é negra, por vezes é apenas a rudeza das sobras devolvidas por erupções vulcânicas sem memória. Há paisagens que são um entrelaçado de lava arrefecida sobre o qual se depõe uma vegetação muito verde e rala, parecida com musgo - uma heroína vegetação. A sucessão de montes e vales e lagos tem o dedo de vulcões que se assassinaram a si mesmos quando vieram mostrar a sua fúria. Não há declives aburptos nas montanhas e as paisagens espraiam-se por áreas extensas, dando a ilusão de tudo parecer que é tão perto.

A impressão digital vulcânica não largou os quilómetros que andei na companhia do carro de aluguer. Mas o que mais meteu impressão foram os lugares onde a terra fervia, melhor, a água fervente que subia das entranhas e vomitava um esguicho como se um garrote a impedisse de vir à superfície. Nos geysers a terra é quente debaixo dos pés. A água em ponto de ebulição bolça em gorgulhos, dizendo (como se houvesse carência de avisos aos turistas) para ninguém a ela chegar.

O ponto de Arquimedes é a lagoa azul. Uma lagoa azul a sério, sem metáforas ou tremendos esforços para redefinir a paleta de cores. A água, impregnada de sílica, nasce a quarenta graus centígrados e retém-se entre as improváveis formações rochosas que são os despojos de uma arribação vulcânica. Para quem não mete os pés na muito fresca água atlântica da costa ocidental (é o caso), aquela piscina natural é um oásis. Retempera tudo, por dentro até. Fechei os olhos enquanto o corpo submergia nas águas tépidas. Por uns largos minutos. Era como se o mundo estivesse cintado nas majestosas paredes basálticas que ao longe amuralhavam a lagoa azul.

As más notícias para o fim: por aqui come-se baleias (é de cetáceos que faço menção).

(Em Reiquejavique)

Sem comentários: