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Não é por serem paus mandados da troika. Não é por causa da caótica herança que os ministros, quando o passam a ser, sempre recebem de quem por lá andou. Também não é por causa da exposição pública – que isto de andar pela rua e sentir todos os olhares caírem sobre si deve ser muito incomodativo (já para não falar da possibilidade de ouvir uns chistes que achincalham). É por causa da devassa patrimonial ao serem obrigados a apresentar a declaração de rendimentos, com apenso das propriedades, ao tribunal constitucional.
Os imperativos de transparência falam mais alto. As figuras pescadas para as ministeriais funções devem ser impolutas e o património não deve ter origens duvidosas. Daí a termos esparramado nas páginas dos jornais quanto ganhou o ministro no ano anterior, qual o seu património imobiliário, as acções que detém em carteira e os depósitos à ordem e a prazo (e os bancos que os titulam – só faltando indicar a agência bancária e o NIB respectivo) tresanda a intromissão e das grandes. Se a cor das cuecas fosse activo patrimonial até esse pormenor ficávamos a conhecer mercê da meticulosa inspecção dos jornais. Ao publicarem estas notícias, os jornais deviam colocar uma bolinha vermelha no canto superior direito da dita.
Podem dizer, em jeito de justificação, que a minha declaração de impostos está consultável em qualquer repartição de finanças. Já me incomoda o bastante imaginar que um qualquer voyeur lá vá perguntar por ela. Mas vai uma diferença muito grande entre as declarações de impostos serem de público acesso a quem não tiver mais nada que fazer e chapar os detalhes de uma dessas declarações nas páginas dos jornais. Não é serviço público. É intrusão.
(E se a imprensa anda a passar o IRS dos ministros a pente fino, espraiando-se em longas notícias com a sua situação patrimonial, deixo aqui sugestão mais importante: cozinhem essas notícias comparando a situação patrimonial de um ministro à entrada e no ano em que deixa de o ser.)
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