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(Prolegómenos de um optimismo improvável)
Os amanhãs perfilam-se nas suas cores desbotadas. Avisam-nos: os piores dias estão para vir. Preparam-se cenários dantescos. A austeridade ainda faz o seu caminho. Havemos de carregar no dorso o fardo das ilusões de outrora, semeadas por pecaminosos tecelões que não souberam (ou não quiseram) ter cautela quando tiveram o tear nas mãos. Que estejamos precavidos para as empalidecidas alvoradas por diante.
Ou talvez seja tudo ao contrário. Talvez as palavras que advertem para o porvir embaciado sejam por excesso. Uma pedagogia para o realismo. É como se nos estivessem a dizer que os tempos de cabeça no ar já não têm cabimento. Agora temos de aterrar. Já não têm serventia os passos maiores que as pernas. Dantes eram dados desses passos na convicção de que o abismo era três passos depois. Agora, que o perfume sórdido do abismo se insinua atrás da orelha, esboroam-se as ilusões: o precipício está à frente dos pés. À míngua de sermos trapezistas (que as artes circenses ficam para os que andam no engodo das multidões), o imperativo de aterrarmos.
Esta é a pedagogia para os amanhãs assustadoramente embotados com sombras de pesar. Os rostos amedrontam-se, carregam-se de olheiras, desfazem-se de sorrisos. Se calhar, estão enganados os rostos assim descompostos. Nos escombros encontram-se os rudimentos da parcimónia que terá préstimo para arquitectar os porvires, sejam eles quais forem. Só se sabe que as alvoradas por diante vão ser diferentes. Acenam com hediondos espectros de amanhãs mal amanhados. As expectativas partem alinhavadas por baixo, rasas ao solo enlameado.
Este é o berço do optimismo que desabrocha do próprio pessimismo reinante. Com uma condição: não podem as concessões à apatia verter-se no copo de onde bebemos. Ao partirmos com as expectativas alinhavadas tão rasas ao solo, os amanhãs não podem ser desbotados. Os rostos vão perder a sua palidez, sinal de que amordaçaram os temores sedimentados. Há crises abençoadas.
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