Fontaines D.C., “Hurricane Laughter” (Darklands Version), in https://www.youtube.com/watch?v=R26xFm5n6aY
Não será da glória do chegamento que se tira a medida do júbilo. Chegar a um lugar é a menos difícil das demandas. Encontrar o caminho mais propício, aquele que costura os limites com bainhas lassas, já constitui empreitada assinalável. Mas os lugares demandados podem ser propícios a desenganos. Não rendem homenagem às ilusões que os hastearam no púlpito das juras apalavradas. São lugares estéreis, onde não apetece fazer vida. Lugares destes não se prestam a um recolhimento: destes lugares leva-se um tremendo nada. Um nada que tem um tamanho maior do que lugares de que deriva um intenso feixe de sensações, os lugares que fazem crescer e que passam a habitar num recanto, irremovíveis. Parecerá paradoxal como um lugar sem serventia, um lugar estéril, seja contundente nas marcas que deixa. A desmemória dele, ou melhor: o deserto de recordações que o nada genético de um lugar destes é o murmúrio que sobra, imorredoiro, a tomar lugar à memória, à memória que deixou de ser usada para reter a constelação de impressões admiráveis dos lugares que ficam retidos na memória. O nada que há nestes lugares é um passivo, com uma toxicidade assustadora. Não há remédio possível para desviar os lugares que deixam um tremendo nada. À partida, ninguém pode atestar que este é o temperamento de um lugar qualquer. É preciso partir com a venda nos olhos e sob o julgamento do desconhecido. Não passamos de figurantes na escala do que é irrelevante para o apuramento de um lugar. Não é conforto saber que podemos ter nas mãos a báscula da vingança, sendo a nossa vez de devolver o julgamento depois de conhecido o lugar. E dizemos: deste lugar, levamos um nada. Não passa de uma inofensiva usura que na aparência congraça no braço da vingança. Admitir que levamos um nada de um lugar, é atribuir-lhe uma importância que julgamos negar-lhe. Raramente damos conta de que ficamos reféns desta frivolidade.