The Smiths, “What Difference Does It Make?”, in https://www.youtube.com/watch?v=XbOx8TyvUmI
Uma pergunta: em quantas noites houve clarões acesos por dentro do peito, quantas deixaram embebida na pele a fala despejada em estrofes concisas, sem lugares-comuns ou fingimentos? Às vezes, a memória parece vítima de um extintor. E extingue-se. Pode não ser malsão. Se a memória contiver as parangonas recusáveis e de lá forem resgatados momentos que são uma espada sem modos, sangrando o corpo em doses maciças de dor. Uma resposta: de vez em quando, no fortuito açambarcar das janelas expeditas que fogem do tempo tentacular. Expiam-se arrependimentos, eles, por sua vez, expiatórios de equívocos possuídos pelo pretérito imóvel. Não se cuida de assegurar que há redenção. Muito de certeza, não será a redenção a ditar o exercício. Não é através de exercícios atirados para o exterior que se alcança a redenção. As virtudes são um acaso que se joga numa roleta russa, à espera de saber, pelo sortilégio das balas que não disparam, a que virtudes calha em sorte serem tratadas como tal. Como reféns dos acasos, não passamos de peões avulsos, capitalizando o suor que foi sendo usado em empreitadas diversas. O que se distingue é a ausência de fio condutor. Não é preciso fio condutor: as maneiras de domar as investidas perfilham o critério da medição das probabilidades, com toda a subjetividade que contém. E diz-se: de vez em quando – de vez em quando. Porque o sempre e o nunca são impossibilidades. E o sempre, ou o nunca, confirmam a sua impossibilidade de cada vez que se diz “de vez em quando”, rompendo com o padrão que um sempre, ou um nunca, pretendiam firmar. À roda com as perplexidades incessantes, não convém exagerar no ajuizamento, nem constituir pelotões de fuzilamento que sejam algozes dos indecisos e dos que ficam em débito à coerência. Pois de vez em quando, até os expoentes da perfeição decaem em seus pecadilhos.
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