16.10.19

Aniversário


Tame Impala, “Feels Like We Only Go Backwards,” (live at Glastonbury), in https://www.youtube.com/watch?v=pjg-uUQ3xHw
         Dores de crescimento: agora, até tens Filosofia na escola! Se calhar, começas a apaixonar-te. Muito provavelmente, há coisas na vida que não consegues entender – mas é para isso, e para muito mais, que existe a Filosofia. Agora, alinhavas uma estética. Na indumentária, na música, na cosmética, na televisão de que és espetadora, no discurso. E a estética é estudada pela Filosofia...
Pensas com a cabeça que começa a fervilhar em pensamento. Eu sei dessas dores de crescimento. Sei que às vezes não apetece falar com ninguém. Sei que o mundo, em dias ímpares e cada vez mais infrequentes, parece uma confusa bola que se funde na vertigem de defeitos da espécie que o domina. Parece um mundo detestável, até cairmos em nós e percebermos as dádivas que temos entre mãos. Mas não vamos outra vez agarrados ao corrimão da Filosofia... 
“O aniversário é o dia menos importante do calendário”, dizia um escritor de que agora não me recordo o nome. Talvez o escritor estivesse consumido pela tristeza e, se olhasse para trás, não trouxesse do passado nada que valesse a pena recordar. Arrisco dizer que não é o teu caso. Por isso, aproveita o dia de aniversário, que é apenas uma fração ínfima do calendário de uma vida (agora, matemática: 1/365). E as vidas, sabê-lo-ás mais tarde, são sempre uma brevidade. 
É costume as pessoas sentirem-se especiais no dia de aniversário. Sabem que há outra gente que as recorda e festeja. No aniversário, és um lugar no centro do mundo. Não faz mal, em dia de aniversário. É para isso que os aniversários servem. Porque há pessoas que em ti têm um amor filial, um amor como só há o amor de quem ama uma filha, e um amor familiar, e é nesses dias que amores destes são avivados. Ficas com as mãos cheias, a oferenda maior que um aniversário traz. Para além dos amigos que se fazem na tua idade, com a inocência ainda própria de quem tem muito para saber das aventuras e contratempos do mundo. 
No aniversário, há aquelas frases feitas que soam ao mesmo, a todo o tempo que sejam entoadas, sobretudo quando mais apetece ecoá-las (e os aniversários integram estas ocasiões). São feitas, as frases, mas não é por o serem que deixam de ser genuínas. De um pai para uma filha que dobra década e meia, exalto a manifestação de um laço indissolúvel, filial, uma matriz que não se desliga do peito que te viu nascer e vê viver. Que sejas assim pelo tempo farto que o tempo nos quiser.

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