Primal Scream, “Loaded” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=XI_XAFqvkpw
(Carta ao cidadão)
Não deixes que te convençam que a liberdade é banal. Corres o risco que uma espada se abata sobre ti e os teus semelhantes. Vigia a liberdade de perto. De ti, espera-se insubordinação quando vierem sitiar a liberdade de que és usufrutuário. Não interessam os argumentos servidos, nem a sua eloquência, ou a sua elegância. Convence-te: não se trata de argumentos, mas de pretextos para levarem um naco da liberdade e te fazerem serventuário dos mandantes. Descerás, então, ao inferno da liberdade condicional. Não terás a noção desse inferno: os mandantes, inescrupulosos, mas ao mesmo tempo sagazes, saberão escolher a retórica a preceito para mostrarem que nunca foste usufrutuário de tanta liberdade como agora. E que lhes deves toda esta liberdade. Não caias no logro, não te deixes seduzir pelo ardil da retórica. Se não ficares refém da inércia, mercê de um comodismo que se instala à vista desarmada do progresso que te vendem em parangonas deslumbrantes, serás mais do que usufrutuário da liberdade. Serás sua fiança. Serás a fiança da tua própria liberdade. Não te demitas da vigilância que é o seguro de vida da liberdade. Desmente os pressentimentos apocalípticos que servem de garantia à liberdade condicional. Denuncia as distopias anunciadas que são a caução da liberdade condicional. Protesta contra a soez confusão entre meios e fins. Não te esqueças da História. Atualiza as suas lições aos olhos dos ventos hodiernos. Não toleres os braços tentaculares que silenciosamente te asfixiam. Se não, só darás conta da asfixia quando os silenciosos braços tentaculares tiverem tomado conta da tua vontade através da anestesia de que és vítima. Sê exigente contigo para poderes ser exigente com os demais, a começar pelos mandantes: não te dês por satisfeito com a liberdade condicional. A liberdade não rima com adjetivos de nenhum jaez. É liberdade. Ponto final.
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