Radiohead, “Let Down” (live at Lollapalooza Chicago), in https://www.youtube.com/watch?v=n9Xgj8RRgmE
Não sei se será lenda: corria à boca pequena que os jogadores italianos mastigavam alho antes de entraram em campo quando jogavam contra ingleses. Nos pontapés de canto, quando os atletas se aglomeram na grande área e a proximidade humana ganha escala, os italianos expeliam o bafo na direção dos ingleses e estes, agoniados, desconcentravam-se. Para dar corpo à lenda (ou para a confirmar, termos em que deixaria de ser uma lenda), falta um investigador meticuloso extrair e tratar dados estatísticos para se apurar quanto golos as equipas inglesas conseguiram marcar a equipas italianas após pontapés de canto.
Passemos à metáfora: confrontados com a opinião desconcertante, com teorias esdrúxulas que só lembram ao demo (para imensa melancolia destilada pelo demo), olhamos perplexos para os visionários que arrotam coisas. Ficamos sem saber se tamanha precognição pode ser considerada como tal, ou se o visionário é um provocador nato que apenas quer granjear a atenção da audiência.
Dando cumprimento à última hipótese, há de tudo. Esoterismos avulsos, maquinações improváveis, alucinantes teorias da conspiração, mentiras tão sucessivas que há toda uma audiência a trocar as voltas ao que é mentira e é verdade, caminhos sinuosos que levam a conclusão inatendíveis, raciocínios ininteligíveis que ofendem a ontologia do raciocínio, negacionistas da ciência que entregam o ónus da prova a quem lhes negar provimento (numa absurda inversão do ónus da prova que os ditos insistem ser legítima).
E por aí fora. São os abjetos re-fundadores dos desvarios. Aqueles que acreditam nas teorias que inventaram e se esqueceram de oferecer os fundamentos. São os lídimos arrotadores de alho (sem desprimor para o alho, um ingrediente vital na gastronomia). Voltemos à metáfora: o bafo que estes vendedores de banha da cobra exalam é semelhante ao castiço que trinca dentes de alho por autorrecreação porque leu numa campanha de publicidade que o alho prolonga a vida de quem o trincar com assiduidade. E depois, quando se achega aos outros, ao pespegar um beijo nos entes queridos ou em senhoras das suas relações, ou ao pedir um rissol e uma cerveja ao balcão da pastelaria, causa um esgar de agonia próprio de quem está confrontado com um odor nauseabundo.
Tão nauseabundo como o que dizem e escrevem no resguardo de uma contramaré que tresanda a um odor ainda pior: o odor da artificialidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário