Alice in Chains, “No Excuses”, in https://www.youtube.com/watch?v=r80HF68KM8g
Um olhar meticuloso não cobrava avença. Era uma atalaia social, o dever de sindicância à prova de bala. Os cultores avalizados convenciam a multidão: se não estiverem vigilantes, há desvios que conspiram contra a justiça nas relações recíprocas, estilhaçando o cimento do grupo. Não segredavam as consequências dissimuladas. Era pedido para que fôssemos síndicos uns dos outros, com o sainete dos pensadores do regime e a bênção das instituições consentidas, em sinal de agradecimento. Que não fosse questionada a bondade do sistema de vigilância mútua de que todos eram autores e alvos ao mesmo tempo. As pessoas estavam confortáveis no papel de autores da atalaia coletiva. Fingiam não serem os alvos móveis desse olhar coletivo e também ele em permanente movimento. Pediam escusa do pensamento que pudesse indagar a atalaia por conta das instituições. Não queriam admitir que pudessem estar na posição passiva da vigilância; cada um interiorizava a condição pura que os isentava das penalidades da vigilância quando fossem dissidentes dos cânones avalizados. Era um tremendo embuste: se ninguém saísse da linha, a atalaia de todos por todos perdia razão de ser. O que era significativo dos tempos averbados. Da distância entre o apregoado e o que se praticava. Ninguém confessava os seus pequenos ou grandes desvios a menos que fosse apanhado na rede apertada da atalaia sistemática. Só havia mentira quando um delator viesse a público documentá-la. Até lá, era como um submarino escondido da superfície: o consenso tácito da mentira disfarçada. Os autores da atalaia passavam quase todo o tempo sitiados pelo fingimento. Quando uma farsa era descoberta e o farsante denunciado, aplaudia-se a atalaia tendenciosa. Todos se agarravam às tangerinas oferecidas como se elas não estivessem à espera de madurez. A vigilância compensava, contra os melhores disgnósticos que a encostavam a tempos de má memória.
Sem comentários:
Enviar um comentário