Girls 96, “Estrela Superstar”, in https://www.youtube.com/watch?v=FxHnhSAasF4
A voz da casta ressoa nos socalcos em que se desdobra o tempo. Altiva e perene. Agressora. Terrivelmente intrusa. Dela ecoam palavras gratuitas, um penso rápido administrado sobre as feridas do mundo que ficam ainda mais à mostra. No cadafalso da aparente erudição, vegetam mandatários que soluçam verdades sem contraditório. Aos demais, sobra o dever inalienável de concordar. Mal de quem ousar a dissidência. O preço a pagar é exorbitante: está destinado o desterro para um lugar longínquo que, no entanto, está dentro do lugar a que pertencem. São as vítimas prediletas deste palimpsesto de lugares.
As danças acertadas que disputam o óbice da perfeição entram nos manuais de instruções. Os comportamentos vestem-se de acordo com o código de conduta. Venceu a padronização. Não se priva a liberdade de quem desalinhar. Não lhe chamam ousadia, mas em silêncio é o libelo que adeja sobre a impertinência dos desalinhados. Eles não se devem afastar da lucidez para terem consciência dos efeitos. Têm de estar preparados para ser os novos párias, por decreto dos mandatários dos usos e costumes consagrados. Deste decreto não há apelação.
Porventura não chega a ser um custo para os que forem condenados ao desterro. Pesadas as circunstâncias, o melhor critério é o que acende uma centelha sobre o ar irrespirável que se abateu sobre um ecossistema venal. As pessoas não fazem perguntas – perguntar é um incómodo que não compensa o trabalho e, assim como assim, há sempre alguém que tem a meândrica incumbência de pensar por nós, de pensar na nossa vez. A apatia é o bestiário a que estão destinados os que endossam o pensamento. Depois, não vão a tempo de resgatar a vontade empenhada. Essa é a pior tirania a que nos podemos submeter. A culpa será de quem não se amofina com a desarte a que chegámos.
Como os livros não se plantam em terra fertilizada, o pensamento não emigra de umas cabeças súbditas para as cabeças que se promovem como suseranas. Podemos tomar morfina e já nada nos importuna. Deixamos as dores a rimar com a nossa decadência. A decadência fica à mostra pelo apequenar a que nos entregamos. Somos reféns de uma vontade anestesiada, à mercê das vontades congeminadas nos restritos estiradores dos mandatários vigentes. Sobre esta tirania, poucas são as palavras.
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