6.6.08

A valsa dos freaks


Quando a igualdade está tão na moda, um imperativo irrecusável, às vezes a incoerência escapa-se-nos entre os dedos. Sem darmos conta, lá vai uma escorregadela em direcção do abismo da iniquidade. Há domínios onde a desigualdade é gritante. A multidão dá alento ao tratamento desigual. Os beneficiários do sortilégio são as estrelas da música pop, consagradas por uma indústria que não faz mais que a sua obrigação – fabricar ídolos de plástico que oleiem os lucros – e por um público massificado que enviesa o olhar.

Por estes dias, em que o primeiro festival de música que pontua a estação estival deu à costa – o festival da moda e das revistas cor-de-rosa (Rock in Rio by Lisboa) – dei conta de como as massas que endeusam as estrelas do firmamento musical são os pastores da mais atroz desigualdade. Houve uma cantora que está muito na moda, mais pelos escândalos em que mergulha com deleite, muitas drogas e violência à mistura, que se arrastou em palco. O suspense fixou-se na véspera e no próprio dia agendado para a performance de Amy Winehouse: na imprevisibilidade da criatura, meio mundo andou de credo na boca porque não havia certezas que quisesse apanhar o avião até Lisboa (ou estivesse em condições de o fazer). Um capricho até, acordar com o rabo virado para o lado errado da lua, seria suficiente para a menina rejeitar o concerto previsto há tanto tempo. No dia não se falava de outra coisa: vai actuar ou não?

Talvez para mal dos pecados dos entusiasmados fãs da senhora, ela veio até nós. Arrastou-se em palco, numa actuação decadente, mostrando uma visível embriaguez que ia decantando à medida que passavam mais e mais cocktails entre as músicas cantadas de maneira sofrível. O nariz constantemente assoado – e não consta que a artista estivesse engripada. Nas pausas ensaiava interacção com a audiência, atropelando-se nas palavras indecifráveis que debitava. No rescaldo do lamentável desempenho, a comunicação social foi unânime na pobreza do concerto. E nem assim a aura que se agigantou à volta de Amy Winehouse foi beliscada. Uma paradoxal sensação: um péssimo desempenho que mereceu a complacência do público, já que da aura que a cerca faz parte, quase como património genético, a decadente vida que leva. Que é, aliás, direito que lhe assiste.

A incongruência está na escala usada para avaliar o mesmo comportamento noutras pessoas. Aqueles fãs que endeusaram Amy Winehouse, e que se encantam cada vez mais à medida que se encaminha para uma vertiginosa decadência feita de drogas, álcool e violência e piora a qualidade da performance artística, são as mesmas pessoas que olham de soslaio para o primeiro drogado andrajoso que lhes apareça pela frente. E que militam entre a brigada dos bons costumes, enjoada com as drogas que desaguam num exército de viciados que emporcalham a sociedade. Para desdita dos toxicodependentes “comuns”, não têm propensões artísticas. A criatividade artística perdoa os excessos de drogas e álcool e violência. Eis a desigualdade em potência.

Outro exemplo: o vocalista de uma “boysband”, com aspecto ridículo, que tinha apaixonadas promessas de casamento de uma legião de excitadas adolescentes. Nunca tinha ouvido falar dessa “boysband” – Tokyo Hotel. O rapazinho tinha um ar, diria, aberrante, com um penteado extravagante e um aspecto nitidamente andrógino. Aliás, não é inédita esta queda do público feminino adolescente por estrelas da música pop que têm um ar tão andrógino. O que leva a interrogar se não haverá, entre estas excitadas adolescentes, um laivo de homossexualidade reprimida.

Nada contra o aspecto aberrante do rapaz. Uma vez mais, direito que lhe assiste. Perplexo fico com o olhar enviesado das meninas entusiasmadas, que confessavam paixões assolapadas à frente das câmaras que as entrevistavam, pelo meio de gritinhos histéricos próprios da idade aparvalhada. Seriam as mesmas meninas que, se dessem de caras com uma aberração clonada sem que fosse o vocalista daquela “boysband”, tremeriam de medo ou ririam de chacota pelo ar ridículo da aberração diante dos seus olhos. Mais um exemplo de lamentável desigualdade alimentada pela indústria da música pop.

Os sacerdotes do politicamente correcto deviam olhar com cuidado para este oceano de desigualdades fermentado pelo estatuto privilegiado das estrelas de pop. Seria um combate agendado para próximas missões de civilização das massas: convencer as estrelas de pop a descerem do pedestal, a serem comuns mortais, desprendidos daquelas extravagâncias que parecem código genético das estrelas consagradas. E, tarefa mais difícil, convencer os entusiasmados fãs que não podem caucionar comportamentos que depois reprovam no anónimo cidadão. Ou, então, só a confirmação que a igualdade é um logro.

4 comentários:

Anónimo disse...

Fiz uma pesquisa por Tokio Hotel imagens e vim dar ao seu blog. Fiz a pesquisa para mostrar a uma colega a imagem dos meninos que andam a dar em loucas as adolescentes. Li o que escreveu sobre Winehouse. Sobre esta o que tenho a dizer é que... tenho pena da pessoa... tenho pena porque ela esta perdida... esta doente... com tanto alcool e droga não deve ter um único neurónio saudável. O último cd dela é genial. Simplesmente genial. Mas quanto a ela... tenho pena... E acho que ninguem pode fazer as criticas que aqui fez pelo menos desta forma... Se tem filhos... não sabe o dia de amanhã e o que aconteceu aos pais da Amy Winehouse pode acontecer-lhe a si... porque certamente não se julgará o melhor pai ao cimo do planeta. Portanto... tenha mais cuidado com a forma como expõe as suas ideias. Cumprimentos. Até pode nem publicar o meu comentario... mas de certeza que o vai ler... e reflita... ninguem sabe o dia de amanhã...

Anónimo disse...

eu estava a fazer uma pesquisa de imagens sobre os tokio hotel e quando vi a imagem do bill com aquela montagem horrivel vim ca ver o que era.
Acho de muito mau gosto tares a fazer isso, concordo com o comentario anterior... alem disso se nao gostas de tokio hotel, se nao gostas do bill, nem do tom, nem do georg, nem do gustav, nao olhas nem ouves, mas tambem nao gozas. Reflecte bem nisso, senao qualquer dia acabas como o paspalho do Jaimão que goza com tudo e com todos, e isso nao é vida para ninguem. E eu n tou a dizer isto so pk gosto deles pk eu tb n gosto de Amy Winehouse e tou a defende-la.Tem mais cuidado com o que dizes. Bjs
ass:fa dos tokio hotel

Anónimo disse...

eu amo os tokio hotel

Anónimo disse...

devo concordar com os comentarios anteriores , ok que eu tambem nao gosto de certos estilos musicas mas nem por isso saio por ai falando calunias , guardo minahs opinoes para mim e para que me pedir.