28.12.11

Dos olhos abertos


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Eram os olhos intrujões? Interrogava-se: podia confiar nos olhos que tantas quimeras espalharam pelo tempo fora? Era como se uns olhos míopes disfarçassem logros com um manto espesso que parecia um adorno autêntico. Esses olhos que foram trama nas horas precisas em que não se deviam gorar na demanda de lucidez. Seriam confiáveis?
E, todavia, os olhos em combustão de encantamento eram uma anestesia adocicada. Era como saísse de si e fosse capaz de sobrevoar os demais, tudo o resto. Convencera-se que o cenário deslumbrante não pertencia aos sonhos, como qualquer conselheiro avisado diria em gratuito parecer. Mas persistia no voo que avivava o rosto com a frescura do vento noturno, frio como a noite invernal. Persistia nos olhos bem abertos. E porque estavam tão abertos podia lá acontecer que fossem atraiçoados pelos fariseus que desmontavam, tardiamente, os encantamentos pueris.
Desta vez, estava convencido que era diferente. Como o fora de todas as outras vezes – ecoavam umas vozes sombrias, teimosas, nos contrafortes do pensamento quando ele se dividia entre o braço de rio repleto de águas fantasiosas e o braço de rio por onde prosseguiam as águas trespassadas pela crueza. Mas desta vez era diferente – teimava contra a maré caudalosa dos fariseus que arpoavam a bandeira da transparência enquanto se convencera que eram embaixadores de uma maldade qualquer.
Os olhos não podiam esbarrar na altivez da desrazão. Outra vez. Os olhos estavam ungidos por pétalas cobertas de nitescência. Emprestavam uma razoabilidade singular, desconhecida. Emergira a consciência de um tempo acertado, um tempo desviado das precipitações que fermentaram as errâncias de outrora.
Num ápice, acertou as contas com as hesitações malsãs. Se os instintos fossem outra errância, ditosa errância essa. Que os calhamaços da história estão cheios de infecunda gente. De gente madraça. São as resoluções que trazem o mundo a reboque. O seu eixo giratório. Uma, todavia, desengonçada força motriz.

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