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Até percebo: há modas que convocam um imenso desprazer.
Manda dizer a notícia que há uns famosos a caminho da
meia idade aborrecidos com a imagem irritantemente higiénica, quase asséptica,
dos que foram entronizados no altar da sedução – os “metrossexuais”
(pergunte-se-lhes, às elas e aos eles que consagraram a popularidade do estilo,
a causa de tanto se deixarem seduzir).
Estes maduros descuidam a imagem e trepam nos topes
da popularidade às costas de um novo estilo “mais natural”. Cabelos grisalhos, penteado descuidado,
barba rala e negligenciada, um certo ar durão. Às duas por três, a excitada gente
que dedica muito do seu tempo a tecer considerações sobre os modismos cansou-se
do ar lavadinho, um pouco efeminado até, dos “metrossexuais”. As preferências deslizam
para alguns famosos já quarentões. Por assim dizer, é um regresso. Não às
origens (que isso reclamaria o direito de maus-tratos sobre o sexo feminino,
hipótese impossível de tão politicamente impopular); é o regresso a uma certa
naturalidade do homem – só falta saber se a menor frequência dos hábitos de
higiene, e o correspondente cheiro a cavalo, também pertence ao património
genético dos “retrossexuais”. O regresso à era em que o homem era mais macho,
descuidado com a imagem e tinha mais tempo para se dedicar aos assuntos substanciais
da existência. Na altura em que o homem não se olhava ao espelho e os cremes
eram apanágio da epiderme feminina.
Mas uma anti-moda desagua numa moda. Os que
andarilham pelo pesar dos modismos dominantes fermentam uma contra-moda, ou
anti-moda, para esbater a que domina. Pois aqui também nada parece ao acaso. Estes
maduros querem o seu quinhão da coutada. O território delapidado pelos
“metrossexuais” obriga a montar uma tática. A negligência do aspeto exterior
tem causalidade, não é simples distração. Quando os “retrossexuais” crescem na
escada do reconhecimento dos inanes, ficam com a interior compensação de
saberem (mas talvez não sentirem) que há retardamento da senescência em ação.
Ora, tudo isto pode estar errado. Se os sócios da
confraria dos “retrossexuais” forem uma invenção da imprensa e dos cultores
destas vacuidades, sempre ávidos nos exercícios de futilidade infrene.
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