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“(...) construir uma história de felicidade
mínima”, algures no Público de
17.12.11
Com os estados
de espírito, será como os conceitos? Adjetivam-se com escalas, como se houvesse
um termómetro que proclamasse às quatro partidas do mundo, e a quem estivesse
interessado em fazer-se anunciar de tal solenidade, que um estado de espírito
(como um conceito) é mínimo, meão ou se apresta a rebentar a escala?
Os
simplistas desmentem a pretensão à complexidade. Dizem: nos estados de espírito
(ao contrário dos conceitos), ou os vemos ou eles andam ausentes. Não há meio
termo. Mas a fronteira entre o ter ou não ter, sentir ou não sentir, é volúvel.
Quase indetetável. As tremendas aspirações, os desenhos feitos pelo cinzel dos
sonhos, amanham um horizonte projetado numa tela mental que é apenas isso mesmo
– mental, sem que as mãos possam tocar na sua espessura. Tomara que tudo
conseguisse ter essa lhaneza. Tomara que pudéssemos arpoar os braços num voo
anestesiante. E habitássemos as nuvens num desligamento terapêutico das agonias
que invadem as veias em cicatrizante pulsar.
Somos
prisioneiros da nossa complexidade. Mas tiramos partido. A modéstia serve de
roteiro. Ensina que o voejo pelos céus tomados por sonhadores inveterados é uma
cilada, uma droga viciante, uma usura. Os pés, assim que aterram no chão, provam
a modesta dimensão. Não é o simplismo que atapeta as ilusões descarnadas do seu
osso matricial. É a complexidade que ensina a redesenhar os suados trajetos que
dantes trouxeram a um precipício qualquer. À míngua dos elevados planos
alinhavados pela batuta do maestro apessoado, sobra um módico de felicidade. A
antítese da melancolia embebida no nevoeiro teimoso que se deita sobre a cidade
ainda a noite se confunde com a madrugada em levitação. As pequenas histórias
de humilde e sóbria felicidade são o regaço onde os braços cansados repousam.
Soubera,
seu fautor, mandar as ilusões para o fundo mais fundo do oceano. Acorrentadas a
pesada pedra granítica. À superfície assomou uma espuma clara, fulgurante. Tão
fina. Era o módico de felicidade. Abraçara-o com a força toda dos braços, por
mais pequeno que parecesse. E dele jamais se quis desfazer.
1 comentário:
Texto muito interessante. Posso cita-lo e referencia-lo?
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