16.12.11

Quem disse que a ciência política é enfadonha? (Excurso sobre a incontinência verbal de um deputado socialista)


In http://clubedevinhos.com/files/imagecache/artigos_full/artigos/garrafa-copo-vinho.jpg
É pena não haver imagens. O deputado (é nestas alturas que convém fazer de conta que se ignora o nome de um mortal) berrava contra os malvados dos credores lá para os lados de Castelo de Paiva, num – imagino – bem regado repasto entre camaradas de partido. Cuspia bílis contra os que nos emprestaram dinheiro, esses malvados. É pena não haver imagens. Pelo som da estação de rádio local dava para imaginar que o deputado da nação talvez salivasse raiva pura nos detritos do assado bolçados através das reentrâncias dentárias.
Os berros destilavam pérolas tais como “estou-me a marimbar para os bancos alemães e franceses”, ou “nós temos uma bomba atómica na mão: ameaçamos não pagar aos bancos”, e portanto os credores que se pusessem “finos”. Ao travarem conhecimento com as palavras enrubescidas do deputado socialista, tanto deve ser o medo que assomou ao córtex cerebral que, fazendo jus à ameaça, ainda agora “as  pernas (dos banqueiros) tremem de medo”.
Não sei se é a ciência política ou a psiquiatria a receber a convocatória para decifrar a incontinência verbal do deputado cujo nome a memória atraiçoa. É que se for a ciência política, só me ocorre insinuar que o deputado foi acometido por uma súbita pulsão e, porventura amolecida a lucidez pelo vinho tinto enfrascado, julgou estar numa convenção do Bloco de Esquerda ou na festa do Avante.
Mas talvez o palco deva ser dado à psiquiatria. O álcool tem destas coisas. Há quem fique grosso com um punhado de copos de vinho. E a língua destrava-se, inclina-se para o tolice. Por precaução, estes conciliábulos partidários deviam ser acompanhados por brigadas à paisana da PSP. Sempre que um castiço subisse ao púlpito para a oratória que encanta as massas (em jeito de genuflexão masturbatória), o agente da PSP estendia o balão para verificar o grau de alcoolemia. Assim como assim, não há brigadas antidoping nas modalidades desportivas?
Os credores (que não nos obrigaram a pedir emprestado, como o tonto deputado babou) que se aquietem. Uma árvore não faz a floresta. E os credores (de que haveremos de precisar e não há de demorar) não precisam de se pôr finos por causa de um tonto que estava grosso.

Sem comentários: