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É pena
não haver imagens. O deputado (é nestas alturas que convém fazer de conta que
se ignora o nome de um mortal) berrava contra os malvados dos credores lá para
os lados de Castelo de Paiva, num – imagino – bem regado repasto entre
camaradas de partido. Cuspia bílis contra os que nos emprestaram dinheiro,
esses malvados. É pena não haver imagens. Pelo som da estação de rádio local
dava para imaginar que o deputado da nação talvez salivasse raiva pura nos
detritos do assado bolçados através das reentrâncias dentárias.
Os
berros destilavam pérolas tais como “estou-me a marimbar para os bancos alemães e franceses”, ou “nós temos uma bomba atómica na mão: ameaçamos não pagar
aos bancos”, e portanto os credores que se pusessem “finos”. Ao travarem conhecimento com as palavras
enrubescidas do deputado socialista, tanto deve ser o medo que assomou ao
córtex cerebral que, fazendo jus à ameaça, ainda agora “as pernas (dos banqueiros) tremem de medo”.
Não sei
se é a ciência política ou a psiquiatria a receber a convocatória para decifrar
a incontinência verbal do deputado cujo nome a memória atraiçoa. É que se for a
ciência política, só me ocorre insinuar que o deputado foi acometido por uma
súbita pulsão e, porventura amolecida a lucidez pelo vinho tinto enfrascado,
julgou estar numa convenção do Bloco de Esquerda ou na festa do Avante.
Mas
talvez o palco deva ser dado à psiquiatria. O álcool tem destas coisas. Há quem
fique grosso com um punhado de copos de vinho. E a língua destrava-se,
inclina-se para o tolice. Por precaução, estes conciliábulos partidários deviam
ser acompanhados por brigadas à paisana da PSP. Sempre que um castiço subisse
ao púlpito para a oratória que encanta as massas (em jeito de genuflexão
masturbatória), o agente da PSP estendia o balão para verificar o grau de
alcoolemia. Assim como assim, não há brigadas antidoping nas modalidades
desportivas?
Os
credores (que não nos obrigaram a pedir emprestado, como o tonto deputado
babou) que se aquietem. Uma árvore não faz a floresta. E os credores (de que
haveremos de precisar e não há de demorar) não precisam de se pôr finos por
causa de um tonto que estava grosso.
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