11.6.20

Escolaridade obrigatória (short stories #221)


Django Django, “Waveforms”, in https://www.youtube.com/watch?v=T2dOW3ztvfs
          Não se diga que nos atiram areia para os olhos. As vendas não são imposição dos outros, nem eles são os letrados que vencem os pleitos de que há notícia. Não se inibam as culpas pelo desconhecimento em causa própria. Não há arremedos de ignorância servidos nas margens da vontade. Pois é a vontade que se entroniza nos caudais onde mora o conhecimento. Hoje ninguém tem perdão. Ninguém pode fingir que não sabe dos embaraços que lhe dizem respeito. Cada um é o lugar onde se congemina a sede da informação. Não é por defeito – é por excesso, e esse talvez seja o sobressalto que continuamente se coloca. Dirão: entre uma maré tão abundante não é fácil peneirar as fontes confiáveis, as fontes que interessam. Rejeite-se a ideia, antes entendida como um pretexto para a expiação da vontade. Pode ser uma floresta densa, difícil de desmatar. Se ficarmos à porta da floresta podemos endossar a responsabilidade aos demais, mas ocultamos a nossa. No convés da vontade, aspiramos a um estetoscópio que sonda as isóbaras do saber. Devemo-nos o verbo da confiança ao intermediarmos a distância entre o saber e o nosso lugar. Prevenindo a incongruência do véu da ignorância (porque ninguém se coloca nesta posição em relação a tudo) e a arrogância da erudição sem fundamento (porque depressa somos atraiçoados pela frivolidade). Sem sermos acríticos ou possuirmos uma desconfiança metódica. Não queremos ser atores onde medra a ingenuidade, nem perseverar numa posição niilista. As sucessivas camadas do saber sobrepõem-se, enviando sinais contraditórios. Cabe-nos o acrisolamento, por maior que seja a probabilidade do erro. Ao menos, temos garantida a aprendizagem. Não somos néscios ao ponto de esquecer que somos a fonte onde se esquadrinha a sede do conhecimento. Essa é a escolaridade obrigatória, independente de qualquer lei ou do comando caritativo de um governo. 

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