In https://www.youtube.com/watch?v=0ojtjiiTr3w&feature=emb_logo
Sua excelência caminhava sozinho junto à ciclovia, envergando a farda oficial (fato e gravata) e a máscara que os tempos exigem. A imagem é da autoria de um ciclista, daqueles que grava as imagens dos seus passeios ciclísticos. A páginas tantas, o ciclista teve os seus segundos de fama, advertindo sua excelência, porque sua excelência, distraído a olhar para o telemóvel, invadiu a área dos ciclistas e arriscou ser atropelado por um velocípede tão distraído quanto ele. Não é todos os dias que um súbdito puxa as orelhas do suserano.
Mas iria sua excelência distraído, como as imagens gravadas desde o guiador da bicicleta deixam entender? Tão elevada sinecura é compatível com a ausência de um guarda-costas nas imediações, como se extrai das imagens? Outra interrogação, partindo do princípio geral da desconfiança em relação a personagens que compõem milimetricamente a imagem: não terá passado de uma grandessíssima encenação?
Convém que sua excelência continue a perfumar o mandato com a aura de proximidade ao cidadão comum. E já que as exigências de afastamento físico, um produto das circunstâncias, não dão caução à “política dos afetos”, sua excelência, em preparativos para a preparação para o anúncio da recandidatura, não terá encenado a distração com a conivência do ciclista cinéfilo, só para mostrar à populaça como também se distrai na via pública a olhar para o telemóvel? Para que todos percebamos que sua excelência é, como nós, humano – talvez, demasiado humano.
O pano que cai na nódoa é a personificação do escol. É tão proibido o uso de telemóvel ao condutor de um automóvel como ao transeunte que ocupa a via pública (e fica em risco de ser atropelado por uma bicicleta porque invadiu a ciclovia). Mas sua excelência é um paradigma para o cidadão zeloso e diligente no cumprimento das regras. Se não passasse de um fait divers transformado em episódio que mereceu retransmissão pelos órgãos de comunicação social, sua excelência apareceria em público a penitenciar-se pela distração tangente a uma ilegalidade e porque podia ter deixado os seguidores patrícios à beira da apoplexia ao quase ter sido atropelado.
Só faltou saber a identidade do ciclista videoamador. Faltou saber se não era um falso anónimo da entourage de sua excelência, cirurgicamente metido em cima de uma bicicleta à hora em que sua excelência, tão distraidamente, meteu o pé em ciclovia alheia. Estas coisas não são ao acaso. É aqui que se montam as grandessíssimas encenações.
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