Será por não ter feito o serviço militar. Será por me gabar de nunca ter tocado numa arma de fogo. Será por ver nos militares os fautores materiais das guerras que estupidificam a espécie humana. Por tudo isto, vejo nos militares um anacronismo que teima em persistir como se ainda fossem matéria crucial.
Voltei às sensações desagradáveis sobre a tropa quando vi, há dias, uma reportagem sobre a turbulência em Timor-Leste. Uma ida aos confins das montanhas timorenses, onde estão acantonados os rebeldes. Contava-se uma história, com contornos obscuros, envolvendo a entrega de armas pelo patético primeiro-ministro a um grupelho de militares com o propósito de aniquilar opositores dentro do mesmo partido. O que faz reflectir no tribalismo latente desta gente: que não hesitarão fazer se adversários de outros partidos passarem das marcas no incómodo de quem se opõe? Pelo caminho, a imagem clara do entendimento distorcido da convivência democrática. Não foram educados para conviver com a diferença de opinião, ainda que tenham que mostrar ao mundo o contrário, quando condescendem com a “inutilidade” das eleições.
Volto ao essencial: de como os militares são peças a mais no xadrez. A imagem retratada nesta crise timorense é a dos militares a assumirem um protagonismo que não os deixa bem na fotografia. Um cocktail explosivo: militares a mais, armas a rodos, políticos ambiciosos que não olham a meios para atingir os fins. Militares ao serviço dos políticos, a eito, militares que exibem as suas ambições políticas. É outro cocktail explosivo, com resultados nefastos, como o prova a história desde sempre: quando os militares saem da caserna e se deixam inebriar pelo perfume do poder político. Os golpes de Estado, as guerras civis em países africanos, o protagonismo recalcado dos “militares de Abril” – tudo expressões de tropa que se estende para fora da sua coutada. Quando nem sequer a sua coutada devia existir.
Dos sinais enviados de Timor-Leste, fico com a percepção que a raiz de todos os males está na abundância de militares. Gostaria de ter dados rigorosos do número de militares naquele país. Para depois fazer o ratio de militares por habitante. Correndo o risco de especular, aposto que o ratio é dos mais elevados do mundo. Uma desnecessidade. Um caldeirão fervente que traz Timor-Leste em constante ebulição. Porque corre nas veias desta tropa o vírus do conflito. A pacificação da sociedade é um estertor que os leva à apoplexia. Têm que se entreter a dar uns tiros, para desenferrujar o antiquado armamento e voltarem a sentir a adrenalina do combate. Nem que, pelo meio, fique um rasto de morte e destruição. Quantas vezes ceifando a vida a inocentes. Simples pormenores que passam ao lado da estupidez que vive por dentro desta tropa disparatada.
O grito de ordem podia ser “desarme-se esta tropa”. Se é que existem paralelos entre a infância independentista de Timor-Leste e a infância democrática portuguesa, o segredo está no regresso dos militares às casernas. Para jamais de lá saírem. O segredo está em convencer os militares que a política é um império dos civis. Uma espécie de dessacralização da política, engavetando os militares – como se fez com a religião – num compartimento sem possibilidades de interferência com a governação. Quando muito, terão os timorenses que suportar a pesporrência dos militares que não se hão-de cansar de exibir a factura à sociedade civil. Lá como cá: para grande desgosto do pessoal dos quartéis que fez o 25 de Abril, o curso da história encarregou-se de os devolver onde eles pertencem: ao ascetismo das casernas. Desapossados de poder, não se cansam de enfatizar o heroísmo que lhes devemos, como se tivéssemos que ser recordados todos os dias da eterna dívida de gratidão. O que está errado. Fizeram o que devia ser feito no tempo que se conjugou para o efeito. Mas a história é isso mesmo, uma sucessão de páginas voltadas num tempo que já passou.
Há dependências do indivíduo em relação a instituições que o enfeudam, tolhem a sua individualidade, banalizam-no. É o apoucamento da personalidade que coincide com o engrandecimento de instituições a que devemos pertencer. A religião, a pertença nacional, a filiação partidária, o respeito pela nobreza de instituições arcaicas, como o exército. As lições da história parecem inúteis – ou a memória é muito curta. Se há passado infamante, é o dos militares que fizeram guerras mil à volta do planeta. E que as continuam a fazer. Se há utopia que não me importo de professar, é aquela que vê a aurora de um belo dia com militares expropriados de armas. Da aurora em que os militares desaparecessem do mapa.
2 comentários:
Não, o problema não está em não ter feito o serviço militar, porque eu também não o fiz e não tenho aversão aos militares, bem pelo contrário.
A abolição dos militares, das forças armadas e das armas é uma utopia. Aliás, como sabe, algumas das maiores tragédias dos últimos 30 anos foram produzidas por forças irregulares, tipo milícias/grupos de guerrilha, como acnoteceu no Cambodja em 1975 e no Ruanda em 1998.
É evidente que os militares timorenses não constituem um bom exemplo, como alguns dos Portugueses não o foram em 1975, para não me reportar a inúmeros outros exemplos. No enatnto, como o seu post acaba por salientar, a grande maioria das guerras é fruto de (in)decisões políticas que são executadas pelos militares, obbecendo disciplinadamente à cadeia de comando. Já Clausewitz dizia que a "Guerra é a continuação da Política por outros meios." Como diria o meu Professor de Sociedade e Cultura Anglo-Americana na UM, War ? "It's a fact of life."
Não acho justo os militares apresentarem-se sem Barba.
Barba é uma coisa masculina, um elemento que faz parte do sexo masculino, e nós homens devemos ter orgulho em tudo o que é masculino, incluindo a Barba.
Os chefes dos militares esquecem-se que estão a proibir de os militares usarem uma coisa masculina, por isso os militares não tem tudo o que é de homem, falta-lhes a barba que é uma coisa masculina.
No nosso planeta os militares, polícias, GNR, PSP e agentes da marinha deveriam ser os primeiros homens a usar barba, porque estes homens representam uma nação e por isso devem obrigatóriamente dar o exemplo do que é ser um verdadeiro homem, com barba incluida.
Os militares e os seus respectivos chefes ao não usarem barba, automáticamente estão a fazer o seguinte:
- Eliminam uma coisa masculina
- Resjeitam uma coisa masculina
- Desgostam de uma coisa masculina
- Desrespeitam o nosso sexo, porque ele meteu-nos barba e vocês tiram
- Fazem um acto que contradiz o que vocês dizem.
Os militares e os chefes podem dizerem tudo o que quiserem, pois não conseguem eliminar os factos que são:
- Barba é uma coisa masculina
- Eles rejeitam, eliminam, desgostam de um elemento masculino
por isso não vale a pena dizerem que são muito homens, porque palavras leva o vento interessa é os actos, e vocês a eliminar a barba estão a fazer um acto que contradiz o que dizem.
Eu sou homem e tenho muito orgulho nisso, e gosto de tudo e aceito tudo o que é de homem, enquanto que vocês (militares) não aceitam tudo, a barba é um elemento masculino e vocês desgostam, por isso automáticamente neste aspecto vocês (militares) são uns autênticos maricas.
Os maricas é que não gostam das coisas masculinas, e como vocês não gostam de barba estão automáticamente a serem maricas incoscientemente.
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