A educação ambiental está na moda. Desde a tenra idade, as criancinhas são formatadas pelo moralismo ambiental. Nos canais de televisão com programação infantil, há intermezzos com excertos de educação ambiental. Todas as manhãs, enquanto escrevo, a televisão debita os desenhos animados que a minha filha consome. Algures pelo meio, aparece uma personagem a enviar a mensagem ecológica do dia. É o Verdocas.
Não digo que sejamos insensíveis à protecção do ambiente. No fundo, é o equilíbrio do lugar que nos acolhe. Há gestos que podemos fazer honrando a preservação do ambiente: a separação do lixo, o acto cívico de não emporcalhar as ruas com papéis e outros dejectos. Ou quando o povo acampa nas matas para os piqueniques de Verão, não deixar o local num caos de lixo. As indústrias são incentivadas a procurar métodos de produção que atenuem o impacto no ambiente. Entraram na moda as estações de tratamento de águas residuais. Os catalizadores são adereço obrigatório para tornar menos poluente a circulação de veículos. Nas grandes cidades, estimula-se o uso de transportes colectivos e, de preferência, aqueles que usem energias limpas.
Um dos grandes males ambientais é a poluição atmosférica. A emissão de gases poluentes encontra uma parcela importante nos tubos de escape dos veículos. Daí que a indústria automóvel comece a experimentar novas soluções para tornar os veículos menos poluentes. Se é acto de expiação das culpas pela poluição acumulada ou apenas manobra de marketing, o futuro o dirá. Algumas marcas comercializam modelos híbridos: ao tradicional motor a combustão adicionam um motor eléctrico que entra em funcionamento quando o automóvel está parado numa fila de trânsito, ou quando a condutor tira o pé do acelerador numa descida, ou quando a condução é tão suave que basta uma ligeira pressão no acelerador para fazer mover o carro.
Há dias passou uma reportagem sobre os automóveis híbridos. Um proprietário foi entrevistado. Estava muito satisfeito, pois conseguia uma poupança de um litro por cada cem quilómetros. Já é um começo. Tímido, é certo, demonstrando como a tecnologia híbrida ainda está numa fase embrionária. Não é isso que me interessa. Apenas a reacção do entusiasmado condutor. Ele fazia os seus cálculos: ao fim de um mês consegue poupar vinte euros na factura do combustível. No dia seguinte um conhecido meu, fanático ambientalista, manifestava descontentamento pela reacção daquele homem. “Egoísta”, eis a acusação.
Não vejo que se possa censurar aquele homem por fazer contas às finanças pessoais. Há algum mal se ele decidiu comprar aquele carro com a expectativa de diminuir a rubrica orçamental do combustível? Dizia o purista da ecologia: desmascara-se a intenção do homem, que apenas olha para o seu bolso e não para o bem comum, para a melhoria do ambiente. Daí a acusação de egoísmo, que punha a nu a sua falta de sensibilidade ambiental. Um falso herói, como todos os que se deixaram seduzir pela novidade dos automóveis híbridos apenas por saberem que poupam na factura de combustível. Para ser um comportamento genuinamente ambiental – prosseguia o exacerbado ambientalista – os proprietários destes automóveis deviam estar orgulhosos por menos gases poluentes serem emitidos para a atmosfera.
A ingenuidade fanática do empenhado ambientalista mostra como esta espécie vive noutro mundo. Erra ao lançar a acusação de egoísmo. Não percebeu que podemos ser individualistas sem sermos egoístas. É verdade que aquele homem estava entusiasmado com o automóvel híbrido porque lhe permitia uma poupança de vinte euros mensais. Há algum mal nisso? Essa poupança pessoal não é sinónimo de um pequeno contributo para melhorar a qualidade do ar que respiramos? Pode o desgostoso ambientalista insurgir-se contra o individualismo de quem comprou carros híbridos. Nem percebe como se insurge contra a sua própria causa. A desorientação é tanta que nem percebe quando algo vai ao encontro das suas preces.
Por mim prefiro um ambientalismo genuíno, motivado pelo individualismo dos seus praticantes. Mesmo que os praticantes deste ambientalismo nem cheguem a reparar que contribuem para um ambiente melhor. Prefiro-os aos mentores da asfixia ambientalista que chega ao ponto de quase propor a extinção do Homem para salvar ecossistemas.
1 comentário:
Por uma vez (estou a exagerar, não é a primeira) estamos de acordo. Esse ambientalista não passa de um fundamentalista, quiçá daqueles que atacam pessoas por estas possuirem animais em cativeiro, mesmo que dentro da legalidade. Passe o exagero, com essa mentalidade, esse indivíduo se tivesse nascido no Paquistão, ou no Iémen, andava de AK-47 ou com um cinto de explosivos a massacrar civis inocentes!
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