Mal andava o mundo se a igualdade, a tão idealizada igualdade que as esquerdas adoram, não distribuísse pelas esquerdas o seu particular Berlusconi. Não é italiano, nem magnata, nem tem a mania que é galanteador. É figura tão apalhaçada como Berlusconi. Em vez de palhaço rico, é um palhaço pobre. Pobre em todas as possíveis acepções da palavra. Tem nome de cefalópode e preside ao Brasil.
Consta, lá pelo Brasil, que Lula Inácio da Silva gosta de beber uma pinga. Quando perora em público, com aquela pose de improvável catedrático das coisas do mundo, às vezes não se percebe se os dislates em que é useiro são produto da etilização momentânea ou apenas da irremissível ignorância. Fico contente que a política internacional seja pontuada pela existência de sublimes personagens como o presidente brasileiro, ou o camarada da Venezuela, ou o folclórico líder boliviano. A modorra e as cores tão acinzentadas da política internacional são um aborrecimento só. Ao menos estas figuras circenses embelezam o cenário com a sua presença e a tendência para o disparate quando decidem abrir a boca para a soltura de palavras que se amontoam no que tem uma distante semelhança com ideias. É imperativo o bem-haja pela sua entrada em cena.
Um dia destes, o cefalópode personagem sentenciou: temos crise porque os grandes banqueiros, os azougados a quem o mundo inteiro aponta o dedo como responsáveis pela crise, são louros e têm olhos azuis. Note-se, isto não é racismo. Como está convencionado, só há racismo quando os brancos – e, de preferência, louros e de olhos azuis – se manifestam contra negros, amarelos, indianos, etc. Alguém escutou da boca dos habituais sacerdotes que habitam nas esquerdas, sempre tão céleres na denúncia de racismo, uma palavra de censura sobre o racismo vertido na fantástica sentença de Lula da Silva? É sinal de que essas palavras não têm o significado racista. Assunto encerrado.
Por acaso, Lula Inácio da Silva está equivocado. O presidente da AIG, um dos grandes bancos mundiais, é negro; na Índia há grandes bancos que são detidos por indianos – e nem os negros nem os indianos têm cabelo loiro e olhos azuis. Há gente atraiçoada pelas suas próprias palavras. Gente que exala o perfume da ignorância quando se acha investida de uma sabedoria intangível e disserta sobre a sua própria ignorância. Também consta, lá pelo Brasil, que o cefalópode personagem não estava no princípio da fila quando a inteligência foi distribuída pela espécie humana. O que é mais enternecedor é ver putativos catedráticos a mergulharem, através do que dizem, na vegetativa agnosia em que existem. De resto, sempre me meteu espécie néscios que se fazem passar por mentes brilhantes. São os maiores ignorantes que podemos conhecer.
É sintomático o silêncio das várias esquerdas. Ou estavam distraídas quando Lula da Silva lavrou a verdade conveniente dos banqueiros brancos e de olhos azuis, ou assobiaram para o ar quando as doutas palavras do detentor da cátedra apedeuta ecoaram nos seus ouvidos. Pois é, cara gente das esquerdas, há verdades inconvenientes. E não são apenas aquelas que vocês diligentemente denunciam quando elas partem, em doses avantajadas, das direitas. Pena que vocês não tenham aproveitado a ocasião para protestarem, com a veemência habitual, contra o racista disparate do cefalópode presidente brasileiro. Ao menos confirmava-se a imagem que teimam em passar para o exterior – a imagem de gente presciente, que tem o exclusivo da verdade e que açambarcou a moral. Em vez disso, optaram por um silêncio que é uma ruidosa indulgência com as patéticas, racistas palavras do apedeuta de Brasília.
O que mais lamento é que este seja o derradeiro mandato do cefalópode personagem. Estamos a uns anos de perder uma das figuras com maior potencial circense da política internacional. Por outro lado, ao ver as desgraçadas oratórias do presidente brasileiro, emerge em mim uma comiseração que costuma andar adormecida. Até nisto a figura tem predicados balsâmicos. Não há maneira de mudar as regras, assim como fez o companheiro da Venezuela, só para eternizar o cefalópode ao leme do grande Brasil?