De visita a "África", o Papa sentenciou: não é com preservativos que se combate a praga da SIDA.
(De caminho, esta dúvida. Ao ler notícias sobre esta viagem papal só consegui saber, pelo título e pelo breve resumo que se segue, que "sua santidade" ia de viagem "a África". Mas onde em África, esse continente tão heterogéneo, tão gigantesco? Era preciso ter a mesma atenção que as companhias de seguro convidam a não ter quando se assina um contrato e, adivinho, por imperativos ambientais – poupança de papel, menos árvores abatidas – remetem as cláusulas do contrato para letras microscópicas. Ou seja, teríamos que ler a notícia para saber o rol de países agraciados com a visita de Bento XVI. O que roça a perplexidade? Duas coisas. Primeiro, não discriminar os países visitados e, indiscriminadamente, tratá-los por "África". Como se a África fosse uma só coisa. Segundo, não ter vindo nenhuma voz protestar contra esta infâmia da comunicação social. Aproveitando para as acusações costumeiras: etnocentrismo, o estigma mal resolvido da outrora potência colonial, o ultraje a África e aos africanos, tratados com esta indiferença genética.)
É o que se chama uma entrada de rompante. No continente mais martirizado pela SIDA, no continente onde é costume associar-se a libertinagem congénita à disseminação da doença, o chefe da igreja católica teve o mau gosto de alvitrar que a luta contra a SIDA não se faz com a educação das pessoas para a utilização de preservativos. Pois não; é com a abstinência tão assepticamente sugerida pelos teólogos católicos. Um tiro na mouche. Ou um tiro no pé, conforme a perspectiva.
A igreja tem problemas mal resolvidos com a sexualidade humana. Para começo de conversa, a biologia deve fermentar uma dolorosa sensação entre os sacerdotes que defendem o dogmatismo católico. Afinal de contas, a espécie depende do tão vituperado sexo. Do sexo que a doutrina não os deixa praticar, que eles não foram espalhados no mundo para a procriação da espécie mas apenas para conduzirem espiritualmente as ovelhas carentes de orientação. Se todos fôssemos obedientes seguidores da palavra divina, não questionaríamos a recomendação de quase abstinência. Só nos entregaríamos à devassidão dos corpos com o fito da reprodução da espécie. Fora disso, viveríamos em harmonia com a castração dos sentidos.
Esse é o grande problema: o que somos e a prole que deixamos dependem do sexo. Dessa coisa abjecta, com troca de fluidos e tudo, ó coisa asquerosa. Ora como a igreja tem problemas com o sexo, supõe-se que seja com qualquer tipo de prática sexual – desde as mais inocentes às mais patológicas, sem discriminação de grau. Como era mais confortável se a fábula das cegonhas que voam desde Paris com o nascituro embrulhado no bico fosse verdadeira. Era um mundo mais higiénico, um lugar sem as perversões do sexo, sem debates espúrios sobre monogamia versus poligamia, nem deploráveis negócios com "carne branca", ou a indústria da pornografia. Toda a gente muito obediente aos mandamentos da igreja, no papel de porta-voz das incontestáveis verdades divinas. Mas toda a gente castrada – porventura o degrau em falta para que todo o rebanho seja obediente.
Eu, que tenho o pecado do racionalismo, prefiro os mandamentos da biologia aos palpites sem cientificidade da igreja católica. É que sempre me fez espécie que Jesus tenha nascido de mãe virgem. À época ainda não havia inseminação artificial. É pena que deus ainda não tenha deitado a mão à biologia e aos biólogos (devem ser todos da maçonaria, por certo). Nas consumições particulares que a igreja católica passa com o sexo, apetece perguntar se em cada padre, em cada freira, não pulsa o desejo carnal debaixo da sotaina. A menos que, em segredo, se proceda à castração química quando entram em seminários e conventos, a biologia desmente a doutrina interiorizada. Duvido que sejam mentalmente fortes ao ponto de se auto-castrarem. E mesmo que o façam, deixem os outros em paz, entregues à interior lascívia. Não os apoquentem com a sua imposta abstinência.
Ver o Papa a pregar a moral anacrónica em África só faz rir: é como se lá chegasse e cobrisse os nativos com roupa apropriada para o círculo polar árctico.
2 comentários:
Como há gente hipócrita neste mundo de meu Deus - nosso Deus é com D grande - que só ver o material. Não fomos criados para a prostitição. Sexo é bom e divino. Mas deve obedecer regras de comportamento. Talvez seja por ler e aceitar pensamentos tão vulgares como esse que o mundo está como está.Chega de hedonismo.
papa leia deteronomio 20 expliquisse;
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