17.6.13

A economia incompreendida


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Maus são estes tempos para a economia (e os economistas). A crise demora-se, contra as previsões. Os economistas que as fazem, deixam para memória futura previsões que depressa perdem atualidade. As pessoas normais, que de economia apenas sabem o necessário para amanhar o orçamento familiar, já perderam a esperança nos economistas que nunca mais anunciam um amanhã bonançoso. As culpas da crise são atiradas para os economistas que não a souberam prever e que dela não sabem como se há de sair.
Para agravar o diagnóstico, um tecnocrata foi posto na cadeira das finanças. Ele não tem sido de boa cepa para desfazer os mistérios da economia. Não está em causa o tom (monocórdico e anestesiante). A dúvida vem da linguagem usada, mais ao jeito dos congressos de economistas e das revistas da ciência respetiva. Se os mistérios da economia eram insondáveis para o cidadão comum, agora que a linguagem tecnocrática foi exportada para o discurso político a economia ganhou foros de ciência esotérica.
Há dias o ministro das finanças quis explicar o crescimento abaixo do esperado com o clima invernal que, de tão rigoroso, não se pôs a preceito. A imprensa, os políticos que habitam nas oposições e os humoristas em geral (que o furo jornalístico foi matéria-prima pródiga para o recorte humorístico) caçoaram do ministro. A chacota foi de norte a sul. Todos se viraram para o ministro das finanças, com ar de troça, como quem diz “com que então, ó banana, foi o mau tempo que arrefeceu o crescimento?
Não vale a pena indagar se S. Pedro se alistou no imenso coro de detratores de Vítor Gaspar. A literatura da especialidade procura dimensionar os múltiplos aspetos que condicionam (para o mal ou para o bem) a evolução da economia. A meteorologia é um desses aspetos, sobretudo quando estações mais rigorosas, ou fenómenos inesperados, prejudicam a atividade da economia. Isto não é uma defesa pública do ministro das finanças – e não é por temor de ser lapidado em público, já que pelos dias que correm o pensamento único emergente considerará quase herético defender o ministro. Isto é apenas a constatação que a economia usa grandezas satirizadas pela população restante.
Só vejo três hipóteses: ou a economia atingiu foros de esoterismo e cada vez mais se afasta da realidade; ou é a realidade que não quer nada com a economia; ou é a comunicação política do ministro que é muito desastrada. Mas ninguém ficará boquiaberto ao saber que quando os verões são maus e chuvosos (aceitando-se que um verão chuvoso é sinal de mau verão) e o turismo se ressente, há uma relação causal entre a climatologia e a economia. Só que deve ser explicada de maneira competente. E entendida sem preconceitos que roçam a ignorância.

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