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Maus são estes tempos para a
economia (e os economistas). A crise demora-se, contra as previsões. Os
economistas que as fazem, deixam para memória futura previsões que depressa
perdem atualidade. As pessoas normais, que de economia apenas sabem o necessário
para amanhar o orçamento familiar, já perderam a esperança nos economistas que
nunca mais anunciam um amanhã bonançoso. As culpas da crise são atiradas para
os economistas que não a souberam prever e que dela não sabem como se há de
sair.
Para agravar o diagnóstico,
um tecnocrata foi posto na cadeira das finanças. Ele não tem sido de boa cepa
para desfazer os mistérios da economia. Não está em causa o tom (monocórdico e
anestesiante). A dúvida vem da linguagem usada, mais ao jeito dos congressos de
economistas e das revistas da ciência respetiva. Se os mistérios da economia
eram insondáveis para o cidadão comum, agora que a linguagem tecnocrática foi
exportada para o discurso político a economia ganhou foros de ciência esotérica.
Há dias o ministro das
finanças quis explicar o crescimento abaixo do esperado com o clima invernal
que, de tão rigoroso, não se pôs a preceito. A imprensa, os políticos que
habitam nas oposições e os humoristas em geral (que o furo jornalístico foi
matéria-prima pródiga para o recorte humorístico) caçoaram do ministro. A chacota
foi de norte a sul. Todos se viraram para o ministro das finanças, com ar de
troça, como quem diz “com que então, ó
banana, foi o mau tempo que arrefeceu o crescimento?”
Não vale a pena indagar se S.
Pedro se alistou no imenso coro de detratores de Vítor Gaspar. A literatura da
especialidade procura dimensionar os múltiplos aspetos que condicionam (para o
mal ou para o bem) a evolução da economia. A meteorologia é um desses aspetos,
sobretudo quando estações mais rigorosas, ou fenómenos inesperados, prejudicam
a atividade da economia. Isto não é uma defesa pública do ministro das finanças
– e não é por temor de ser lapidado em público, já que pelos dias que correm o
pensamento único emergente considerará quase herético defender o ministro. Isto
é apenas a constatação que a economia usa grandezas satirizadas pela população
restante.
Só vejo três hipóteses: ou a
economia atingiu foros de esoterismo e cada vez mais se afasta da realidade; ou
é a realidade que não quer nada com a economia; ou é a comunicação política do
ministro que é muito desastrada. Mas ninguém ficará boquiaberto ao saber que quando
os verões são maus e chuvosos (aceitando-se que um verão chuvoso é sinal de mau
verão) e o turismo se ressente, há uma relação causal entre a climatologia e a
economia. Só que deve ser explicada de maneira competente. E entendida sem
preconceitos que roçam a ignorância.
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