In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpE1eSQcx4FRQ-DtUCFmreCpzDrB2pEpr-ke0b526GheVgf-ZWP5VCrZVDQHaRG4lQaREl9n-lxwk_C5jMwAtJYWDHg911a7gXryAKggiDsLdUkhiGr9thVxKBBzkR6IUKot3JMQ/s320/reticencias.JPG
Inacabado. Tudo parecia
inacabado. As origens interrompidas por uma viagem que mudara a casa habitual.
A escola já diferente, e à antiga nunca mais quis voltar. Discos com audições
não terminadas, livros que levavam o mesmo caminho. À face do efémero,
transpirava um suor pegadiço que fazia subir um amargo à boca: inquietava-o, o
efémero, e todavia andava num corrupio para trazer o efémero às coisas que
vinham desaguar no seu caminho.
Era – como dizê-lo para ficar
bem entendido? – uma congestão indomável, as algemas que subjugavam a vontade e
o empurravam contra o paradoxo dos contrários que se repudiavam. Não conseguia
negar o doloroso noturno quando a insónia apoquentava à boca de cena,
sussurrando sem parar que tudo eram reticências, atirando a culpa para cima
dele. Uma voz rouca, tão noturna como a noite por ela fora, açoitava o
pensamento com a proverbial incapacidade para terminar o que houvesse tido
inauguração. Mas havia o outro hemisfério, onde tinha ninho uma voz
desassossegada mas doce, pesarosa com os critérios bem alinhados da voz que
sussurrava ao ouvido do lado contrário. De que servia lembrar que tanta coisa
ficara por terminar? Talvez esse fosse um fado fatal, e ele fosse um andarilho
que cerzia os panos que eram outros começos. E, talvez, o opróbrio do inacabado
fosse uma serpente a hipnotizar a lucidez, tomando o inacabado por crime a
exigir paga quando nem crime chegaria a ser se a lucidez não tivesse sido plagiada
pelos querubins da moralidade.
De volta à casa da partida –
como acontecia amiúde, num reflexo em que não tinha mão – era assaltado pelos
pensamentos vorazes que liquidavam a alquimia do tempo atual. Pois o tempo
atual devia declinar os soezes convites das evocações que avivam feitos
inacabados. Era uma imperfeição total, tão volátil que mais parecia uma
imperfeição perfeita. Os olhos marejados pela fadiga erguiam-se ao céu. Processavam
uma prece de quietude. Queriam que os anjos falsos que hipotecam o sono
tivessem outro trono. Ou, ao menos, que os anjos se banhassem numa água de
humildade e decaíssem no acosso da consciência. A prece pediu para não virem as
vozes forasteiras fazer-se intrusas no seu dentro. E pediu que os amanhãs
abraçassem o que viesse aos braços, coisas inacabadas ou a perfeição mirífica
(já não importava), como caução da quietude.
A certa altura, devolvido aos
pensamentos dispersos que reviravam a contradição insanável, percebeu por que
não usava reticências na escrita.
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