In http://spc.fotolog.com/photo/60/22/106/cres/1252945052522_f.jpg
Já era dia de frete. Ao
almoço ia ter a companhia de duas personagens vindas da capital do país. Era
minha função enturmá-los na cidade provinciana para onde vinham trabalhar. A
falta de jeito para ser cicerone nas coisas alheias não me deixa à vontade. E a
falta de jeito cavalga a galope porque não fui talhado para a conversa de
ocasião que tem a vastidão do vazio.
Para acinzentar o cenário, os
dois personagens de que fora convocado para ser cicerone tinham bazófia a rodos.
Eram só façanhas, umas atrás das outras. Talvez fizesse parte de um guião para
me impressionarem. E impressionaram. Pena tenho que não tivesse sido pelos melhores
motivos. Já a sobremesa se aproximava, e os involuntários convidados se haviam
desembaraçado da primeira garrafa de vinho tinto, passaram para o capítulo das
proezas carnais. Era uma competição onde anotavam, das catacumbas da memória,
as conquistas femininas que não conseguiam resistir ao seu imenso charme. O
álcool, é sabido, liberta a língua e desembaraça as miragens.
A linguagem de caserna tomou
conta do final do repasto. Limitado à condição de ouvinte, atónito, pois –
pode-se dizer sem exagero – não os conhecia de lado nenhum para ser invadido
por tanta intimidade, ia olhando para o relógio procurando apressar o fim da refeição
que começava a ser indigesta. E lá continuavam eles, no marialva autoelogio de
quem não deixava fora da rede qualquer rabo de saias que andasse por perto. Tudo
aquilo era um repositório de memórias. E enquanto olhavam para mim, sem que eu
entendesse se queriam um aceno de admiração pelas proezas ou se pretendiam
reciprocidade na narração (pouca sorte teriam, que disso tenho modesto
cadastro), apeteceu perguntar se aquele rosário de memórias não era um lenitivo
pelos tempos áureos que, na sua idade, já não quadravam com as possibilidades
físicas.
A andropausa deve ser um
aborrecimento. Os pavões descaem em pueris atitudes. E vangloriam-se boçalmente
sobre feitos que só as donzelas arrebanhadas poderiam confirmar se não se trata
de pura imaginação. É que os cães que mais ladram são os que menos mordem.
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