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(Discurso na impossibilidade de ser convidado a proferi-lo por ocasião
do dia de Portugal, Camões e das Comunidades)
Quando o Estado Novo mandou
construir em Coimbra o Portugal dos pequeninos, o futuro estava a ser escrito antes
do tempo. Décadas depois, perdido o império colonial e achado um lugar
pequenino na Europa, situamo-nos nos contrafortes do que, historicamente,
sempre fomos: reduzidos à pequenez territorial e à periferia geográfica, a exiguidade
a quadrar com a insignificância no teatro das nações.
Podem os mais otimistas e os
que se orgulham do lugar que as gestas anteriores deixaram para a história
contrapor que a história não deve ser aviltada e que o tempo presente não merece
o apoucamento da pátria. Temos um mar imenso, temos uma comunidade de falantes
que faz da língua uma pátria comum, uma das mais faladas por todo o lado. Somos
ainda uma grandeza, todavia turvada pelo torpor que tomou conta de uma
sociedade apóstata no freio da descrença intemporal nos que a governam. Diria
que o mar imenso que reclamamos ser nosso, com os recursos ainda
incomensuráveis que pode oferecer, e a língua que se diz cimentar uma
comunidade de falantes, são meros símbolos que mitigam uma grandeza só inscrita
na matriz da história. Mas que é só isso. Uma nostalgia bastarda que alimenta
uma esperança no passado, quando a esperança devia estar inscrita no tempo
futuro – ou reduzir-se à névoa do presente, do dia que passa de cada vez sem a
ousadia de cerzir planos para os amanhãs incertos.
A história não deve ser
panaceia. O Portugal dos pequeninos de Salazar encerra outra carga simbólica. A
história de proezas foi um acidente no mais longo recorte da história. Evocar
as descobertas, os intrépidos navegadores, os ousados colonizadores, as riquezas
vindas dos lugares açambarcados, a oferta de novos mundos ao mundo, tudo apenas
um apenas um episódio, e pequeno, da história que não começou em 1143.
Começámos por ser pequeninos. Fizemo-nos a pulso, repelindo invasões e
fazendo-nos mais tarde invasores. A concorrência das outras nações, mais
poderosas em armas e exércitos, e a modernização do tempo que embaciou os
impérios coloniais, deixaram-nos com aquilo que fomos antes da pretensão da
grandeza mundial. Esta foi acidental. Uma exceção na vontade intemporal.
Quando agora aportamos ao
refrigério das efemérides é um presente e um futuro que se hipotecam nas brumas
da memória. Não digo que seja esquecido o passado. Mas que ele seja a medida
certa para evitar o viés da história que, contada com a muita distância do tempo,
só serve para adiar o presente. De cada vez que vamos às brumas da memória
evocar as proezas dos antepassados, maiores são as dores dos dias presentes,
maiores as incógnitas imersas no futuro já de si tão incerto. Esse é o maior
sinal de uma pequenez condoída. Da pequenez que, quando mal digerida, fermenta
amargura. Quando a pequenez devia ser admitida sem vergonha do presente, porque
pequenos sempre fomos.
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