13.6.13

As tulipas todas dentro da jarra


In http://fairystyle.files.wordpress.com/2011/10/jarras-com-tulipas.jpeg
Um molho de tulipas à mão de semear. E pomo-las todas dentro da mesma jarra? Não as dividimos por jarras diferentes, por sua vez as jarras depostas em compartimentos diferentes da casa? Não obedecemos a um critério qualquer para esportular as flores nas diferentes jarras – a cor, o tamanho, ou nenhum critério, que acaba por ser um critério também? E se for a cor: temos de meter as tulipas da mesma cor todas dentro da mesma jarra e no mesmo compartimento?
Ali atrás, interrogações a propósito de generalizações. Quando elas vêm abraçadas ao pensamento que entroniza simples palpites na vez de verdades irrefutáveis sem solo para ser seu alicerce, dá numa forma de pensamento único e totalitário. Há de tudo um pouco. Em assuntos variáveis. De quadrantes diferentes. Há dias, um professor universitário das ciências da educação transbordou da ciência que é seu saber e decretou imperativos categóricos sobre economia. Sem perder de vista que a economia é política, foi por ali fora que nem um tufão arrasando tudo o que se interpusesse entre o caminho e a embaciada justiça social que, a seu ver, nunca foi tão maltratada. A culpa é de uma súcia de economistas que aprenderam a cartilha de Milton Friedman (“escola de Chicago”). Os que ensinam economia de acordo com estes cânones são vendilhões ao serviço do capital financeiro abjetamente especulativo. Hipotecaram a alma à ganância do lucro. São intérpretes de uma sinfonia que apenas cuida dos lucros das grandes empresas. E são insensíveis à miséria, caucionando, com o que ensinam, o empobrecimento intencional que não destoa da austeridade em curso.
Estando ao seu lado, e mesmo não simpatizando com a “escola de Chicago” (um radical de direita não faz esse obséquio), pus-me a pensar se teria o topete de meter o pé numa praia que não é minha. De ciências da educação prefiro não opinar para não cair em ridículo, em delas nada sabendo. De todos sofismas ali soprados com raiva, não valia a pena rebater as questões substantivas. Como não estava entre pares, a discussão, se a houvesse, era caminho de sentido único. Preferi adoçar o pensamento com o que pode levar alguém à tremenda propensão para a generalização. Talvez seja pueril esta forma de pensar que acantona os bons de um lado e todos os pérfidos do lado contrário. O mundo é complexo de mais para ser tratado desta maneira binária.
O que traz um sorriso ao canto da boca é a ideia feita de que “estes economistas” são uns malvados que se venderam aos poderosos interesses da finança. Sob o mesmo casaco, são professores e consultores de empresas; alguns até participam na gestão de grandes empresas que espezinham os trabalhadores numa opressão que, diz-se por aí, só tem comparação com o tempo do “fascismo”. Não sei como estes arautos da verdade, os novos paladinos dos desfavorecidos, explicam que haja quem ensina e não faça mais nada na vida além de ensinar. Como explicam a sua generalização, os ditos paladinos da justiça social, se estes ensinadores não têm grandes empresas ou financeiros especuladores na sua folha de pagamentos?
Nesta altura, em jeito de contraditório, adivinho os justiceiros a ensaiarem uma das suas maiores especialidades: a conspiração. Para certificarem que os tais professores devem fazer parte da folha de salários oculta das malévolas grandes empresas. Rematando com um categórico “só pode ser”.

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