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Nos promontórios que se ofereçam mais agrestes. Nem que alpinismo seja
preciso. Que a destreza suavize as pedras pontiagudas que obstruem os pés
cansados. Não desistas. Nem o vento álgido, ou os aguaceiros grossos que
encharcam os agasalhos, demovam a escalada.
Passas pelo tempo que passa, pode ser que o entardecer se apresse e
cerceie o alpinismo celeste. Não convém entrar nos precipícios escondidos quando
já é noite traiçoeira. Apressas o movimento, derrotas o cansaço que transtorna
a lucidez (a meias com a altitude que torna o oxigénio rarefeito). Perguntas às
pedras debaixo de teus pés, às pedras todas que te cercam, quantas humanas
almas as calcaram. Esperas por respostas, mas só obténs o silêncio embotado
pelo silvo do vento e a musicalidade das grossas gotas de chuva que caem no
chão pedregoso.
À míngua de palavras que as pedras não dizem, começas a imaginar a
sofreguidão das pedras que querem falar. As palavras suadas pela exposição à
atmosfera atroz. Como estão consumidas pela chuva impenitente, a água
escorrendo por elas abaixo, as pedras lavadas perenemente. O musgo cresce nos
intervalos das tempestades duradouras. As pedras ficam vicejantes, recebem o
sol com a vontade de quem abre as janelas para o arejamento que se impõe. As
pedras engalanam-se com a fina camada de musgo. Envaidecem-se. Sentem ser a
recompensa pelos dias a fio fustigadas pelo vento implacável e a chuva que se
descarrega em toda a sua ira sobre a serrania agreste.
As pedras gritam ao alto como são soberanas da paisagem. Vigiam os vales
em redor, são tutoras dos rios que nascem num planalto e se vertem, com
vertigem, pelo primeiro alcantilado que estiver a jeito. Tudo em volta conflui
para as pedras dominantes. Centrípetas, deixam à paisagem restante a frágil
condição de suseranas. São elas que retêm, até onde conseguem, as chuvas
despejadas sobre a serrania. Elas determinam o sossego nos vales onde se acamam
os rios que têm partida da serrania granítica.
Nunca uma dependência foi tão salutar. E as pedras, magnânimas,
oferecem-se na sua equidistância como viveiros de onde os vales circundantes se
regeneram.
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