4.4.19

Nem um euro para o peditório do “dantes é que era bom”


Modernos, “Sexta-feira”, in https://www.youtube.com/watch?v=8ag4OULEmr4
Dantes é que era bom”: é a prece, ou o pranto (ainda estou para entender), dos profetas do tempo enclausurado na porta férrea da memória. “Dantes é que era bom”, pois agora operou-se a transfiguração do tempo e de todas as coisas, e eles, adulterados, tornam as pessoas imarcescíveis em saudades autênticos peixes fora de água. Pois se “dantes é que era bom”, por que não cuidam da reabilitação do tempo museológico em que vivem aprisionados? 
É numeroso o exército dos que aiam pela repristinação do tempo pretérito. Não se reconhecem nos vários hoje que passam pelas mãos. Talvez tenham ficado para trás e não lhes ocorra que a marcha contínua do tempo vem apalavrada à inovação. Tudo é composto de mudança. Os que ficam excluídos, por vontade própria, dos ventos da mudança, manifestam um sentido pesar que a modernidade se tenha esquecido do passado. Não se cansam de começar frases com “dantes é que era bom” e de ostentar à lapela o exaurido conservadorismo. A caução de que precisam para autojustificarem a aversão aos tempos modernos. 
Não cuido de uma apologia da modernidade, da que está em sintonia com o tempo atual, ou de qualquer outra que esteja prometida para o porvir. Ser-se-á dissidente com essa modernidade sem o madrigálico com um pedaço qualquer do passado. O tempo flui na sua linearidade, não é circular (não é como teimam os historiadores, que elucubram nas repetições da História). Haverá um meio termo que preencha o espaço entre os cuidadores do passado, que enxameiam os ouvidos dos outros com o peditório do “dantes é que era bom”, e os intrépidos zeladores do presente que está com mira no futuro. Sem encontrar filiação em nenhum dos estereótipos, prefiro o espírito crítico de quem não tem saudades do passado nem medo do futuro que é servido na instantaneidade do presente. Os que se untam com o pregão “dantes é que era bom” estão fora do seu tempo e vivem de um tempo mortiço. 
Para os que não largam as saias do passado, eis a má notícia: o passado está preso no passado e não é repetível. Expirou. Não exportem do passado as memórias em sucedâneo de algo que não conseguem reproduzir no tempo tangível (lembrar-se-ão que é o presente?). Não: as diferentes dimensões do tempo não são intermutáveis e o passado não se reproduz numa transcendência que não possui.  

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