FKA Twigs, “Cellophane”, in https://www.youtube.com/watch?v=YkLjqFpBh84
O desafio de que não se esconde o olhar: podia ser timorato, temerário, mas o olhar salta as alfândegas que os lugares-comuns industriam e apetece-lhe saber ao que vem o desafio. Pode ser um logro. Pode ser a etimologia escusada que apenas serve para iludir o olhar numa encenação de si mesmo. Pode o desafio ser um covil perfeito, um lugar apertado onde o corpo se exsuda nos corredores estreitos de um labirinto inacabado, como se o próprio tempo fosse infinito durante a convulsão havida no labirinto. Ou pode ser a paisagem onde o olhar se emancipa de algemas assim contraditadas, sabendo-se lugar-tenente da madurez, o olhar. Nunca o saberá, o olhar, se não corresponder ao desafio do desafio.
Tome-se como exemplo um preconceito qualquer. É um impedimento estrutural (ou não tivesse sido elevado à categoria de preconceito). O olhar não está disposto a equacionar as convenções em que foi adestrado. O tirocínio – qualquer tirocínio – não é por acaso. Mas o olhar pode sentir a pulsão do que lhe é estranho, sem saber os cambiantes do desconhecido e, mesmo assim, arrisca arriscar. Pois sente-se desafiado pelo desafio. E não conseguirá saber os contornos do desafio se não se lançar, desimpedido de preconceitos, ao desafio.
Se o olhar se consegue desprender das baias, só lhe pode acontecer uma de duas possibilidades. Ou o risco compensa e o desafio foi um campo fértil para a aprendizagem, emprestando ao olhar uma silhueta com contornos mais largos, expandindo os horizontes que o confinam. Ou o malogro da experiência é o resultado de um desafio imponderado, com o olhar sequaz sabendo-se perdedor na safra do desafio que o desafiou. Qualquer das possibilidades exige uma correspondência entre o olhar e o desafio. Que dita o estilhaçar das baias que restringem o olhar.
Se for terçada a hipótese do logro, que não fique uma impressão de desperdício. O olhar fica a ganhar, mesmo sentindo que saldou a empreitada com a inconsequência de um desafio afinal sem substância. Fica a ganhar, o olhar, porque se libertou das baias que o delimitavam a um espaço exíguo. E fica a ganhar porque aprendeu a deduzir, no uso do pensamento estruturado, que o desafio era inútil. É preciso que o olhar se despoje das algemas para saber do sabor da inconsequência. E de como acertar as contas com as dores, pungentes ou não, depois de dar conta de um desafio que acabou por ser o palco de um erro.
A melhor aprendizagem é a emenda dos passos em falso.
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