Pat Kay and the Gajos, “You Said”, in https://www.youtube.com/watch?v=ivFhiu7A5Dk
Se forem de modas, tragam o saleiro e despachem o conteúdo para cima das modas. Precipitem o antagonismo das modas, que se consegue através do seu esvaziamento. Dirão: há sempre uma moda em espera, uma sucessão de modas. O tempo não está para ausência de modas. É um penhor constante.
Talvez estejam do avesso, as fundações. Talvez haja um senão a tornar incompatível a lucidez de uma moda sempre presente. É um simples lugar-comum. Em sentido contrário, alguém interroga (à laia de pergunta de retórica) o que é uma moda. Ensaia-se uma definição: os comportamentos que dão caução às preferências de uma minoria. Por ser moda, consegue ter uma convincente persuasão que se estende a mais pessoas.
Uma moda não precisa de tanto respaldo. Ou por outras palavras: não é o apoio de uma maioria que garante a linhagem de um modismo. Enquanto houver dissidentes, uma moda é apenas uma tendência que fica em legado para um séquito. Os dissidentes podem inaugurar uma contra moda. Ser contra a tendência dominante pode alimentar o siso da divergência. Os dissidentes podem tirar partido do estado pré-comatoso da tendência dominante. A lucidez, na medida inversamente proporcional do alistamento numa moda, contempla a moda do momento à distância. Prepara-se para o afastamento sem remédio, o que seria um contratempo para as alcateias removidas de espírito crítico.
Estar nos antípodas de uma moda é um contratempo sem solução. Se atrair apoiantes, são o rudimento de uma contracultura, um movimento que fascina os que não se reveem na moda do instante. Podem ser precursores de uma moda diferente. Ao início, não se assume como moda. Quanto maior for o seu séquito, mais a contracultura vê dissolvida a sua vocação de rebeldia, transfigurando-se na moda que vai emergir.
As modas deviam ser banidas. Todas, até as que se desembaraçam do estribilho da oposição e, por ganharem reconhecimento, se transformam na moda dominante no instante. Oxalá houvesse vontade para exilar a palavra “moda”. Seria atribuído um lugar vago no dicionário, em sua vez. As pessoas, multadas de cada vez que ativassem a palavra na fala. Só haveria ilustrações. Pedaços de alma expostos ao escrutínio da praça pública. Ilustrações nos antípodas das modas, a elas reservado um papel de curiosidade antropológica, a celebração da recusa de uma memória servil.
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